Judeus no mundo
IRAQUE
A história dos judeus no Iraque tem mais de 2700 anos sendo a comunidade judaica no Iraque uma das mais antigas existentes.
Há uma certa divergência quanto a quando chegaram os primeiros judeus à região. Alguns historiadores acreditam que foi em 722 a. E.C. – quando o Reino de Israel foi derrotado pelos assírios e sua população, as Dez Tribos, dispersa. Outros já acreditam que foi em 586 a.E.C., após a derrota do Reino de Judá por Nabucodonosor II, que um grande contingente de judeus passou a morar na região. Os judeus que passaram a morar nesta região tiveram o nome de “judeus babilônicos”.
Sabe-se que no Império Babilônico não foram escravizados nem tratados com uma crueldade vista em outros lugares. Quando chegaram ao Império Babilônico, a comunidade se estabeleceu em vilas fechadas mantendo seus costumes e crença religiosa. Vale lembrar que nessa época os judeus adotaram o aramaico como a língua do povo e adotaram costumes que se preservam até hoje.
O tempo se passou até que em 537 a.E.C., o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a região e colocou um fim ao império babilônico, dando aos exilados judeus permissão de voltar a Jerusalém e lá reconstruir o Templo. Nem todos judeus voltaram, alguns ficaram na babilônia onde criaram uma comunidade forte que perdurou até a imigração judaica para Israel no séc 20.
Cerca de quinhentos anos (já no século I desta Era) depois, a Judéia estava sob domínio Romano, e sob este domínio várias revoltas aconteciam (sendo todas esmagadas). Muitos judeus fugiram e alguns foram para a Babilônia. Nesta época a Babilônia, sobre atual domínio dos partos (um povo que compunha a Pérsia), ressurgiu como um grande centro intelectual judaico, pois com o declínio das instituições judaicas na terra de Israel, a Babilônia se torna o mais importante centro isolado de ensino judaico do mundo, assim permanecendo até o início do séc. XI.
Mais ou menos um século depois os Persas voltam a dominar a Babilônia e os judeus estão bem com sua autonomia religiosa. Nessa época também são criadas ieshivot (duas em especial: Sura e Pumbedita) que centralizavam toda a vida judaica.
Entre os anos de 630-640, progressivamente toda a Babilônia cai sob o controle árabe, sendo o islamismo proclamado religião oficial na região. Pouco se sabe sobre os primeiros dois séculos sob o domínio Islâmico devido à escassez de fontes judaicas nessa época. Sabe-se, porém, que em 638 os árabes mudam o nome da região para Iraque, os judeus aceitaram a mudança e, por sua vez, os árabes reconheceram a religião judaica em seu território. Nessa época os judeus passam a usar o árabe como língua e deixam de lado o aramaico em seus escritos.
Ainda no domínio Islâmico foi instituído um código de leis - Estatuto Dhimmis, obrigando judeus e cristãos a pagar certas taxas e impostos para que lhes fosse permitido viver em terras muçulmanas, sem aceitar o Corão (apesar de serem considerados, por opção própria “cidadãos de segunda classe”). O tempo foi passando e a cidade de Bagdá tornou-se o centro do Califado. As comunidades judaicas também vivenciaram um período de grande prosperidade e desenvolvimento. As duas ieshivot de Sura e Pumbedita foram transferidas para Bagdá.
O tempo vai passando e sucedem-se os conquistadores. Em 945, a cidade de Bagdá é conquistada por muçulmanos shiitas, para ser depois tomada pelos turcos, por volta de 1058. Começa agora um período de decadência e a liderança judaica local também foi afetada e, apesar de a comunidade continuar a prosperar, houve um enfraquecimento da liderança espiritual. Passaram-se mais 112 anos e em 1170 a época de auge da comunidade judaica no Iraque acabou, exércitos mongóis saquearam a cidade, massacrando, sem piedade, sua população. Passaram-se mais quatro séculos e em 1534, os turcos-otomanos tomaram Bagdá, lá permanecendo por quatro séculos. Há poucas informações dos judeus nessa época - somente a partir do século XVI (quando judeus fugindo da Inquisição se estabeleceram nessa região). Os judeus agora não tinham mais tanta influência política sobre a região, mas mesmo assim voltaram a se desenvolver. Alguns destes aumentaram suas fortunas consideravelmente durante o império turco-otomano.
Em 1742, uma epidemia matou grande parte da população e quase todos os rabinos da região, sendo assim a população judaica decresceu sensivelmente. A relação judeus-governantes locais estava muito mais fraca do que já fora por isso alguns judeus estavam buscando outros locais para viver entre eles Índia, outras partes da Pérsia etc.
No início do século XX, viviam no Iraque mais de 80 mil judeus, dois terços dos quais em Bagdá. Em 1908, o governo turco fez uma série de reformas, concedendo aos judeus igualdade de direitos. A partir de então, poderiam ocupar cadeiras no parlamento e trabalhar em instituições públicas nas cidades de Bagdá, Basra e Mosul. Os mercadores ampliaram suas atividades e, pela primeira vez em sua história, a comunidade judaica da região vislumbrava um futuro no qual seus membros não mais seriam considerados “cidadãos de segunda classe”.
Quando a Grã-Bretanha assumiu o mandato sobre a região, depois da Primeira Guerra Mundial, criou o Reino do Iraque. O rei Faisal, o novo monarca imposto pelo Mandato Britânico, concedeu liberdade religiosa, de educação e trabalho para todos os judeus de Bagdá, os quais, segundo ele, tiveram papel determinante para o desenvolvimento e progresso da região. Constituíam cerca de 25% da população de Bagdá e controlavam o comércio da cidade.
Muitos foram indicados para cargos de confiança no governo e outros tantos se tornaram representantes no Parlamento e no Senado. Esta época boa acabou quando o rei Faisal morreu e deixou seu filho (Ghazi) no trono, o qual não via com bons olhos os judeus. Nesta época Hitler assumiu o poder na Alemanha e uma embaixada alemã foi aberta em Bagdá. Começou nesta época uma perseguição às minorias e não somente aos judeus. Pouco tempo depois o governo de Ghazi sofreu um golpe de estado, mas mesmo assim a perseguição aos judeus continuou, com atentados a bomba a instituições judaicas sendo cada vez mais comuns. Em 1939 um homem chamado o Grande Mufti de Jerusalém viu Bagdá como seu refugio. Ele era abertamente anti-semita e totalmente pró-Alemanha.
Em 1941, simpatizantes do nazismo e do Grande Mufti incentivaram uma rebelião contra o governo iraquiano, partidário da Grã Bretanha. Derrotado, o Mufti fugiu para Berlim. Apesar da derrota e da repressão a seus adeptos, um violento pogrom tomou conta de Bagdá. As tropas britânicas na região recusaram-se a intervir, alegando não ter recebido ordens para tal. Cerca de 180 pessoas foram assassinadas e mais de mil feridas, sendo esta uma das datas mais sangrentas na história da comunidade judaica no Iraque. A vida dos judeus ficava cada vez mais difícil no país e iria ficar mais após 1948 (criação do Estado de Israel). Em 1948 existiam cerca de 150.000 judeus no Iraque, mas a perseguição orientada pelo governo os forçou a fugir e segundo dados de 2002 existem cerca de 50 judeus lá.
A maioria dos judeus iraquianos foi para Israel mesmo com todos seus bens congelados pelo governo iraquiano, e a saída dos judeus só sendo permitida pelo governo por causa da pressão internacional e por causa da obsessão do governo por se apossar dos bens dos judeus.
Muitos judeus não tinham como ir embora do Iraque então o recém criado Estado de Israel ordenou duas missões, “Ezra” e “Nehemias”, com o objetivo de resgatar os judeus daquele país. Cerca de 104 mil foram evacuados. Em represália, em 1952, os judeus foram proibidos de emigrar, além de serem obrigados a ostentar uma estrela amarela em seus cartões de identidade (semelhante ao que foi adotado pelo governo nazista).
A Guerra de Seis Dias de 1967 aumentou ainda mais o anti-semitismo.Em 1969, o julgamento e posterior enforcamento público de onze judeus, acusados de pertencer a uma rede de espionagem, gerou grande pavor internacional. O governo, no entanto, negou as acusações de anti-semitismo, afirmando que “apenas enforcara 11 espiões”.
No início da década de 70 o governo permitiu a partida dos judeus que ainda residiam no Iraque, mas a maioria dos judeus que ainda estavam no Iraque era formada por idosos que não tinham condições de partir. Atualmente há apenas uma sinagoga aberta no Iraque, e os judeus que ainda lá residem ainda são proibidos de ocupar cargos públicos ou trabalhar em empresas estatais.