Judeus no mundo

ESTADOS UNIDOS


Os primeiros judeus a chegar aos Estados Unidos com objetivo de fincar raízes e criar uma comunidade vieram em 1654, num grupo de 23 judeus. Vale lembrar que estes não foram os primeiros judeus a chegar, mas sim os que vieram com o intuito de formar família e criar raízes ali.

    O navio com 23 judeus atracou em Manhattan. O navio vinha de Recife (Brasil) de onde eles haviam sido expulsos pelas tropas portuguesas que acabavam de reconquistar Pernambuco (os judeus preferiram acompanhar os Holandeses a ter que viver sob o domínio da Inquisição, além disso, os engenhos já não proporcionavam a mesma riqueza de antes, o que pode ter contribuído para os Holandeses se renderem). Apesar de Nova Amsterdã estar sob domínio holandês e a Holanda ser um país reconhecido por sua tolerância religiosa, os judeus foram recebidos com hostilidade por conseqüência de medidas do governador local que logo acabaram devido à pressão dos influentes holandeses lá residentes.

    Em 1655 foi fundada a primeira congregação judaica dos EUA em Nova York (a região passou a ter esse nome depois da invasão inglesa na região). Inicialmente chamada de Congregação Shearith Jacob e, posteriormente, Shearith Israel, tinha entre seus fundadores um dos 23 primeiros residentes judeus. Neste mesmo ano o governo autorizou aos judeus a compra de terras para a criação de um cemitério judaico

    Alguns anos após o início da comunidade de Nova Amsterdã, um grupo de judeus chegou à colônia puritana de Massachusetts, na qual foram mais bem recebidos. A mesma tolerância puritana acolheu em Connecticut um grupo de judeus venezianos. Mas era em Rhode Island que vivia a maior comunidade judaica da época, pois lá idéia de liberdade de culto havia sido um fator essencial na fundação da colônia. Na futura Pensilvânia (estado), os judeus da Filadélfia (cidade), além de serem bem recebidos, ganharam todos os direitos civis rapidamente. Na parte sul do país os judeus também foram bem vindos e estabeleceram suas colônias rapidamente. No período colonial foram construídas cinco sinagogas nos EUA: Nova York, Filadélfia, Savannah, Charleston e Newport.

    Uma das características marcantes que moldaram a formação da sociedade norte-americana foi o fato de a população que veio inicialmente para povoar as colônias estar fugindo de perseguição religiosa na Inglaterra ou na França. A imigração tinha como base fundamental a procura de um lugar no qual as pessoas pudessem criar uma nova sociedade e professar abertamente a sua fé.

    Um dos fatos que pode ser levado em conta para o próspero desenvolvimento da comunidade judaica nos EUA é o de que quando os judeus começaram a chegar a nação ainda era pequena, em desenvolvimento e ninguém podia clamar por raízes maiores do que a de outro povo. O judaísmo passou a ser visto como mais uma religião e os judeus como um povo que tentava sobreviver em um novo mundo longe das perseguições européias. Porém, mesmo nas colônias onde os judeus eram bem vindos, não tinham total igualdade civil, sendo impedidos de exercer determinadas funções, como ser membros de júris e disputar cargos eletivos. É importante lembrar que as restrições a certos direitos não se limitavam à minoria judaica. Os católicos também não tinham esses mesmos direitos, pois a população dos EUA era e ainda é, em sua maioria, protestante.

    Os anos foram passando e os judeus estavam determinados a conquistar cada direito civil que não tinham, tentando provar a todos que poderiam ser úteis naquele país. A maioria dos argumentos apresentados ressaltava sua experiência no comércio, suas redes familiares e contatos espalhados pelo mundo.

    Até 1700 havia entre 200 e 300 judeus nas colônias sendo a maioria deste sefaraditas. Assim como em muitos lugares onde se estabeleceram, os judeus na América Colonial eram ativos no comércio. Sua vivência, cultura e contatos no exterior lhes permitiram ter importante papel na navegação costeira e no comércio ultramarino. Apesar do grande envolvimento nessa atividade, havia também entre eles lojistas e artesãos, vendedores de alimentos etc. Havia poucos judeus agricultores e poucos eram ricos. Já judeus mais pobres durante o período pré-independência eram de origem ashquenazita, vindos do norte e do centro da Europa. Em 1720, a comunidade começou a receber mais judeus vindos da Alemanha e Polônia.

    Quando as colônias declararam sua independência da Inglaterra, no dia 4 de julho de 1776, havia aproximadamente 2.500 judeus em meio ao total de 2 milhões 500 mil habitantes nas colônias. Em maio de 1776, atendendo a um apelo do Congresso Continental, os membros de todas as congregações reuniram-se nas sinagogas para um dia de jejum e preces. Durante a Revolução Americana, além de participar ativamente nos combates militares, apoiaram econômica e financeiramente a causa revolucionária. No dia 15 de setembro de 1776, as tropas britânicas ocuparam Nova York.

    Para não viver sob domínio da Coroa inglesa, líderes comunitários e religiosos deixaram a cidade, instalando-se em Connecticut e na Filadélfia até que a região fosse desocupada. Mesmo durante a ocupação, a sinagoga foi preservada e os únicos registros de vandalismo foram a violação de dois Rolos de Torá por dois soldados ingleses.

    Em 25 de novembro de 1783, as forças inglesas saíram de Nova York, sendo substituídas pelas tropas americanas. Um novo país estava nascendo e os judeus participaram ativamente de sua formação.

    Um país baseado nos princípios de liberdade e igualdade para todos os cidadãos. Na Declaração de Independência do dia 4 de julho 1776, pela qual as treze colônias romperam seus laços com a Coroa Britânica os direitos civis a todos são realmente firmados. No entanto, a escravidão permaneceu e só foi abolida durante a guerra de Secessão, na metade do século XIX, devido a interesses econômicos dos estados do Norte, que eram mais ricos. Mesmo assim, a segregação racial continuou a existir e só foi extinta na década de 1960. Os judeus norte-americanos foram os primeiros, na história da diáspora, a serem iguais aos seus vizinhos não-judeus.

    Depois da independência, no século XIX, veio uma onda de ashkenazim da Alemanha que trouxeram consigo a Haskalá, o iluminismo judaico. Foi nesta época que se estabeleceram o judaísmo reformista e o conservador nos Estados Unidos. À época da Guerra de Secessão, já havia 150.000 judeus no país. Aproximadamente 7.000 lutaram no lado dos Unionistas e 1.500 no dos Confederados. Muitos eram oficiais de seus exércitos – havia 9 generais e 21 coronéis judeus participando do conflito.

    No fim do século XIX, uma nova onda migratória tomou forma. Vindos do Leste Europeu, muitos judeus fugiam dos pogroms e das péssimas condições de vida. A maioria vinha da Rússia e da Polônia; de áreas dentro do “Pale de Assentamento”. Entre 1881-1890, uma média de 20.000 destes imigrantes chegava no país. Em 1924, dois milhões de judeus já haviam se estabelecido nos EUA. No entanto, o crescimento do sentimento anti-imigração fez surgir um sistema de cotas de imigração que restringiu o fluxo de judeus, que direcionou-se, durante a época, para o Canadá. A comunidade judaica se opôs a essas medidas, mas elas vigoraram até 1965.

    Em 1939, uma pesquisa de opinião pública levada a cabo pela agência Roper (http://www.fsmitha.com/h2/ch22.htm) descobriu que 39% dos americanos achava que os judeus deviam ser tratados como pessoas normais, que 53% acreditava que eles eram diferentes e deviam ser restringidos e que 10% acreditava que os judeus deviam ser deportados. Assim, o resgate da população judaica não foi uma prioridade para os EUA e os projetos-de-lei propostos para abrigar refugiados além da cota não foram aprovados. 50% dos judeus entre 18 e 40 anos serviu no exército americano durante a Segunda Guerra.

    Mesmo assim, cerca de 100.000 judeus vieram fugindo da perseguição nazista, mas alguns foram impedidos de entrar devido às políticas de imigração. Logo após a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus vieram de países árabes de onde tinham sido expulsos.

    Após o fim da Guerra Fria, cerca de 150.000 judeus vieram da União Soviética.

    No campo da política, os judeus sempre foram muito ativos. Em 2007, há 13 senadores judeus, de 100 membros do senado. Os judeus participaram ativamente dos movimentos pelos direitos civis, especialmente da mobilização liderada por Martin Luther King Jr, que foi acompanhada e apoiada por Abraham Joschua Heschel, um dos mais importantes rabinos do país. Durante a história, os judeus demonstraram uma forte inclinação para votar no partido Democrata, mesmo contra um candidato conservador de descendência judaica.

    Apesar de algum anti-semitismo, por parte da Klu Klux Klan de alguns membros da Nação do Islã, além de algumas outras organizações e indivíduos, como Henry Ford e Ulysses S. Grant (estes dois mortos e a KKK banida e repudiada), os judeus se integraram à cultura americana e se tornaram parte importante dela. Muitos judeus deram contribuições inestimáveis a vários campos da vida, especialmente às artes, por sua ligação com Hollywood e com a Broadway, por exemplo e às ciências – 37% dos americanos que ganharam um prêmio Nobel no século XX eram judeus.

    Atualmente cerca de 6,4 milhões de judeus vivem nos Estados Unidos (a maior população judaica do mundo, concentrando mais judeus do que Israel), constituindo cerca de 2% dos 300 milhões de habitantes da nação. A maioria destes se concentra na área da Nova Inglaterra, de Nova York (maior concentração) da Flórida, da Califórnia e de Nevada. Existem muitas instituições com os mais diversos fins, mas é interessante saber que a segunda maior sinagoga do mundo é a congregação Emanu-El, em Nova York, que há, em todo país, 15 milhões de pessoas que comem kasher (a comida kasher é amplamente disponível no mercado norte-americano) e que estão presentes as tnuot: B’nai Brith, Betar, Bnei Akiva, Habonim Dror, além de algumas tnuot dirigidas pelas sinagogas.