Judeus no mundo

AUSTRÁLIA


Quando as Treze Colônias (atual Estados Unidos), revoltaram-se contra a Inglaterra, em 1776, alcançando sua independência, o Reino Unido viu surgir a necessidade de uma nova colônia prisional, pois, devido ao fato de suas prisões estarem sempre abarrotadas, muitos criminosos eram enviados para as colônias britânicas que necessitavam de colonizadores.

Existia um território de grande tamanho que nenhuma potência havia ainda reclamado para si. Vendo esta possibilidade, em 1770, a Inglaterra declarou a Austrália sua propriedade. A colonização efetiva iniciou-se apenas em 1788, com a chegada da Primeira Frota. Dentre os quase 800 presos embarcados, 16 eram judeus.

Até 1817, mais prisioneiros judeus chegaram e um número suficiente foi posto em liberdade. Estes prisioneiros libertos formaram um minyan e uma sociedade funerária (Chevra Kadisha). Os números aumentaram devido à imigração de judeus vindos da Alemanha e da Inglaterra. Com o aumento da população judaica na Colônia, surgiram as kehilót (comunidades organizadas). Sydney foi a primeira, em 1831, seguida por Melbourne, em 1841. A Kehilah de Sydney foi fundada por Joseph Barrow Montefiore, primo de Sir Moses Montefiore.

Até a criação das kehilót, a prática do judaísmo na Austrália era desorganizada e não havia uma liderança rabínica, muito menos um Sefer Torah. O primeiro foi trazido em 1830. Os serviços religiosos eram realizados nas residências de seus membros.

Em 1832, foi realizado o primeiro casamento judaico e, três anos depois, Mr. Rose veio da Inglaterra para atuar como Chazan, Shochet e Mohel. Em 1844, foi construída a primeira sinagoga da Austrália. As comunidades de outras cidades, atravessando um momento semelhante de crescimento e organização, também construíram suas sinagogas. Nos seis anos seguintes, sinagogas foram construídas em Hobart (na Tasmânia), Launceston, Adelaide (dado disputado) e Melbourne.

Na metade do século XIX, houve uma Corrida do Ouro na Austrália, que trouxe muitos imigrantes para esta colônia, principalmente para os arredores de Melbourne, que se tornou a maior comunidade da época. Rapidamente, os imigrantes judeus ultrapassaram em número os já estabelecidos. Inicialmente, eles assentaram-se em áreas rurais, mas, depois de algum tempo, acabaram fixando-se nas cidades também. Isso criou uma necessidade para mais (ou maiores) sinagogas e, em 1878 foi construída, em Sydney a Grande Sinagoga, que está lá até hoje.

Uma segunda Corrida do Ouro, por volta de 1890, trouxe mais imigrantes e ocasionou a criação da kehilá de Perth, na parte oeste da Austrália.

Por volta dessa mesma época, uma onda de imigrantes veio da Polônia e da Rússia, fugindo da pobreza e dos pogroms. Vinham dos shtetls e eram muito rigorosos na prática do judaísmo. Estes ortodoxos fizeram aumentar a observância da tradição na comunidade da época, que estava totalmente integrada à vida pública australiana, mas estava assimilando-se. Uma segunda onda de imigrantes veio depois da Primeira Guerra Mundial.

À medida que o fascismo ganhava força na Europa, mais imigrantes judeus chegavam à Austrália. Quando Hitler chegou ao poder, em 1933, essa onda intensificou-se. No início, o governo australiano hesitava em permitir a entrada de tantos imigrantes, mas em 1938 ele decidiu alocar 15.000 vistos de entrada para “vítimas da opressão”. Em torno de 7.000 judeus aproveitaram-se destes vistos e entraram no país antes do início da guerra.

A vinda dos imigrantes criou diferenças entre as comunidades judaicas australianas urbanas. A maioria dos que se estabeleceram em Melbourne vinham da Europa Oriental e eram muito mais ortodoxos que aqueles que se estabeleceram em Sydney, vindos da Europa Central e Ocidental. Perth também se tornou um centro de ortodoxia, com a chegada de muitos imigrantes sul-africanos.

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, mais imigrantes chegaram, muitos vindos de campos de refugiados e, mais tarde, da União Soviética (a partir de sua abertura). A comunidade Sefaradi estivera dormente desde o final do século XIX e agora se revitalizava. Desde a desorganização de sua Kehilá, os sefaradim tiveram dificuldades para entrar na Austrália, devido a políticas racistas do governo. Após a Guerra do Canal de Suez, em 1956, o governo passou a permitir que alguns judeus egípcios imigrassem. Nos anos seguintes, a pressão da comunidade judaica fez com que o governo derrubasse esta medida. Em 1969, quando o governo iraquiano começou a perseguir judeus, a Austrália permitia que qualquer refugiado encontrasse abrigo em seu solo.

Os judeus, tendo participado da construção da nação australiana, foram, desde o início, considerados cidadãos iguais. Puderam exercer livremente sua fé e sua profissão e quase nunca foram perturbados por isso. Destacaram-se na vida pública e exerceram diversos cargos políticos importantes, como prefeito, presidente do parlamente, etc... Hoje em dia, existem cerca de 100.000 judeus no país, 80% dos quais moram em Melbourne e Sydney. Existem, no total, 81 sinagogas e 18 escolas judaicas no país. A população é bastante religiosa, especialmente em Melbourne, onde 80% dos judeus se consideram tradicionais. A presença do Chabad é forte e existe também os movimento juvenis Habonim Dror, Betar, Bnei Akiva, Hashomer Hatzair, Hineni, Skif e Netzer. Um fato interessante é que muitas machanót são realizadas junto com os movimentos juvenis da Nova Zelândia.