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O REINADO DE SALOMÃO (aprox 930-900 a.E.C)


"Saí, ó filhas de Sião,
e contemplai ao rei Salomão
com a coroa
com que sua mãe o coroou
no dia do seu desposório
no dia do júbilo do seu coração." 

Cântico dos Cânticos 3.11 


    Antes de Salomão ser escolhido rei, havia uma divisão sobre quem deveria ser o sucessor de David. Adonias, irmão mais novo de Absalão, se considerava o herdeiro e era apoiado por Joab, o general de David, Abiatar, o Sumo Sacerdote e por todos os seus irmãos exceto Salomão. Por outro lado, Salomão era apoiado por sua mãe e esposa preferida de David, Betsabé, por Natan, o Profeta e por Sadoc, sacerdote que buscava suceder Abiatar em seu cargo.

    Apesar dessa divisão, quando David anunciou que Salomão deveria substituí-lo no cargo e pediu a facção mercenária de seu exército que o apoiasse, Adonias se amedrontou e seus adeptos se dispersaram. Salomão foi, assim, ungido por Sadoc e coroado rei. Apesar de não ter ocorrido batalhas para a definição do sucessor, algum tempo após tornar-se rei, Salomão perseguiu e matou seus antigos oponentes.

    O governo de Salomão foi pacífico, ele não tinha interesse em continuar a expandir seu império e, por isso, tratou de manter seus domínios sob controle e fazer acordos de cooperação com os países vizinhos para que não ocorressem guerras. Era costume na época que os acordos políticos incluíssem o casamento de Salomão com uma princesa de outro reino. Assim, à medida que Salomão fazia acordos, aumentava o tamanho e o custo de sua corte¹. Como a corte morava em Jerusalém, esta cidade acabou se tornando uma metrópole internacional que, além disso, servia como centro comercial mundial e centro espiritual judaico.

    É notável também o desenvolvimento econômico pelo qual Israel passou durante o reinado de Salomão. Justamente pelo fato de Israel ser o centro entre o Egito e países da Ásia, o comércio foi muito explorado. Salomão fez acordos com os fenícios (famosos avegadores) em que estes ajudavam Israel a construir barcos e, em contrapartida, Israel permitia que eles tivessem acesso a outros mares aonde antes eles não chegavam. Durante seu reinado portos foram construídos, além de lugares onde guardar os produtos que eram importados para revender. Iniciou-se, na época, a exploração de minas de cobre existentes no Neguev. Tudo isso tornou Salomão extremamente rico.

    Uma interessante história que se conta é a da visita da rainha de Sabá. Sabá era um país, provavelmente na região do Chifre da África, onde hoje se localiza a Etiópia. Sua rainha, visando fazer comércio foi até Jerusalém tratar com Salomão. Foi recebida com grande pompa e ambos os lados ficaram impressionados. Há uma lenda que chegou até os dias de hoje pela qual o Rei da Etiópia² reivindica ser descendente direto de Salomão.

    Já havia uma grande quantidade de dinheiro acumulado pelos impostos de Davi e estando a acumular riquezas, Salomão decidiu empreender a grande obra de Jerusalém: a construção do Templo Sagrado. O Templo seria o local onde descansaria a arca sagrada e o centro espiritual de todos os judeus. Seu significado é tão grande que até hoje os judeus rezam e voltam ao lugar onde o templo original foi construído apesar de restar dele apenas um muro.

    A construção do templo durou sete anos. O projeto foi desenhado por experientes arquitetos fenícios³, foi utilizada a melhor madeira dos melhores cedros do Líbano e milhares de trabalhadores foram utilizados para a construção. O custo foi exorbitante, mas o verdadeiro problema da construção foi que o trabalho dos construtores era forçado e os impostos foram canalizados quase que exclusivamente para esta obra. Quando o templo foi inaugurado houve uma grande celebração, com um grande discurso de Salomão.

    Salomão também ficou famoso por sua sabedoria. São atribuídos a ele três livros da Bíblia: o Cântico dos Cânticos , que reúne belos poemas de amor; Provérbios, composto por ditos enigmáticos e aforismos e Eclesiastes, que trazem expressões de desilusão. Não existe comprovação de ele ter realmente escrito qualquer dos livros que se atribuem a ele.

    Apesar de ter sido o construtor do Templo e de ter criado uma economia bastante desenvolvida e eficiente, seu país acabou se desmanchando. Não deixou um sucessor capaz de manter o povo de Israel unido. Além disso, os reinos que antes pagavam impostos a Israel deixaram de fazê-lo após sua morte. Por fim, grande parte da população tinha reclamações de seu governo por este ter usado de trabalho forçado, cobrado altos impostos e ter gastos fortunas na manutenção de sua corte e em obras dispendiosas e enormes, mas que não eram de extrema importância para o povo. Salomão também teve problemas religiosos. Cada princesa com que casava trazia consigo sua própria religião. Para agradar seu harém, Salomão ergueu altares a deuses estrangeiros, permitindo que cultos politeístas se disseminassem por Israel. Isto teria enfurecido D’us, que teria dito que só respeitava Salomão por amor a David.



    1 A corte de Salomão era muito grande, ele teve 700 esposas e 300 concubinas.

   2 De acordo com a lenda, a Rainha de Sabá teria se convertido e tido um filho, Menelik e este teria convertido a população de Sabá ao judaísmo. É por isso que o rei da Etiópia se intitula O Leão de Judá. A religião Rastafari já proclamou a vinda do Messias com base nesta lenda. Ele teria vindo na figura de Hailé Sélassié, rei e depois ditador da Etiópia (morreu em 1975) . Sélassié seguia o culto da Igreja Ortodoxa Etíope.

    3 Salomão deu a Hiram, rei de Tiro, 20 cidades perto de Cabul em troca dos serviços prestados na construção do Templo.