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MESSIANISMO (séc. XVII-XVIII E.C.)


"Escuta agora, ó Casa de Israel!
[...]Eis pois que o Eterno, Ele mesmo, vos dará um sinal:
eis que a moça grávida dará à luz um filho e o chamará
Imanuel ('Deus está conosco')" 

 Isaías 7:13-14

 
    Em poucos anos a fisionomia do judaísmo polonês foi se alterando. Em lugar das comunidades bem organizadas e preocupadas com o estudo, surgem massas de pessoas miseráveis sem futuro e sem ocupação.

    A estrutura comunitária se enfraquece, não há dinheiro para sustentar as Yeshivot polonesas, é mais importante trabalhar do que estudar.

    Um manto de ignorância e superstição desce sobre o judaísmo polonês, que no século anterior havia sido o mais importante centro de produção cultural de todo o mundo judaico.

    Nestas condições, em que a miséria e a ignorância se convertem em características da maior parte dos judeus da Polônia, surge um fio de esperança: o Messianismo.

    As perspectivas de melhoria de vida eram tão pequenas, que somente a fé na vinda do Libertador sustentava as suas vidas.

    Impossibilitados de compensar suas desventuras com o paliativo secular, com o estudo, pois as yeshivot já não existiam e com todas as forças sendo concentradas na luta pela vida, os judeus aferraram-se as promessas messiânicas como sua tábua de salvação. E, por um momento, a promessa pareceu que ia concretizar-se: de Esmirna, na vizinha Turquia, chegavam noticias de que o Messias apareceria, na pessoa de um certo Shabetai Tzvi.

    A esperança messiânica entre os judeus data dos tempos do profeta Isaías, isto é, do séc. VIII a.E.C. Através dos tempos, sempre que o povo judeu foi oprimido, um dos fatores que o manteve unido e contribuíram para impedir sua assimilação completa foi a esperança de que dias melhores viriam, de que Deus perdoaria os seus “pecados” e enviaria o Messias para libertá-lo e reconduzi-lo a Eretz Israel.

    Nenhum movimento messiânico, entretanto, teve tamanha influencia no mudo judaico – e não só na Polônia – quanto o que foi desencadeado, nos meados do séc. XVII, pelo cabalista Shabetai Tzvi.

    Shabetai Tzvi era um homem psiquicamente doente. Sua doença era de um tipo especial: era sujeito a terríveis depressões, seguidas de momentos de grande euforia. Nestes momentos, praticava atos foram do comum, como dançar, gritar alto, e principalmente transgredir as leis religiosas, comendo coisas proibidas, pronunciando o nome de Deus e coisas do mesmo tipo. Depois, caindo em si, arrependia-se de ter violado estes mandamentos, ficava terrivelmente deprimido, tendo acessos de choro e jejuando para expiar seu “pecado”.

    A carreira messiânica de Tzvi começou quando foi à cidade de Gaza para consultar um jovem cabalista chamado Natan, que tivera sonhos onde lhe aparecia o Messias. Ao ver Tzvi, reconheceu a figura que vira em sonhos e o proclamou como o verdadeiro Messias. Natan também interpretou os atos aparentemente loucos de Shabetai Tzvi como sendo atos de Tikun (reforma), o que significava um esforço supremo para vencer definitivamente o Mal. E como o Mal só poderia ser vencido pelo Messias, chegou-se a conclusão de que ele era o Messias.

    A noticia então se espalha pelo mundo judaico. Corria o ano de 1655; na Alemanha e na Polônia o clima era propício para a aceitação da idéia messiânica. Shabetai Tzvi teria sido enviado por Deus para acabar com todo o sofrimento do povo judeu.

    Tzvi dirige-se então a Istambul, para exigir do sultão que conceda a independência a Eretz Israel, para que os judeus de todo o mundo pudessem retornar a seu país ancestral, mas o sultão, que não tinha interesse algum em renunciar a sua província, ordena que o “Messias” faça milagres para provar sua condição messiânica, assim como Moisés fizera diante do Faraó. Tzvi não realiza milagre algum e diante de sua condenação a morte, toma o passo decisivo de sua vida – converte-se ao islamismo.

    A noticia de que o Messias se convertera à religião de Maomé caiu como um raio sobre as comunidades judaicas de todo o mundo. A princípio, seus seguidores não acreditaram; quando se tornou claro que a noticia era real, o desespero dos que haviam visto em Tzvi a libertação de sua condição miserável não teve limites. A euforia que desencadeara sua aparição seguiu-se de uma decepção muito maior, motivada pela sua traição ao judaísmo.

    Shabetai Tzvi, agora sob nome islâmico de Mehmet Jafé, começou a pregar o Zohar em segredo; foi denunciado porém, e o sultão o deportou para a Albânia, onde morreu em 1676.

    Dez anos haviam transcorrido desde que o “Messias” aparecera. A maioria dos judeus já se desenganara, voltando as suas tarefas cotidianas e amargando a decepção terrível de saber que seu “Salvador” os traíra. Porém, alguns seguidores não desistiram de sua crença; formaram um grupo conhecido como Sabatianistas, que foram posteriormente excomungados pelos rabinos.

    Nos cem anos que se seguiram à conversão de Shabetai Tzvi, surgiram vários pretendentes a “dignidade messiânica”.

    A ânsia por uma interpretação emocional do judaísmo foi mais uma vez ilustrada pelo sucesso de um aventureiro chamado Jacob Frank com o chamado Frankismo.

    Por volta de 1740, apareceu no sul da Polônia alegando ser a reencarnação de Shabetai Tzvi e que a época da redenção viria depois que as pessoas tivessem saciado todo o mal que havia dentro de si, para que não mais pudessem ser tentadas, invertendo assim todas as doutrinas da religião; espalharam-se noticias sobre orgias que seus seguidores se entregavam.

    A população judaica ficou chocada e o expulsava de todos os lugares que chegava, juntamente com seus seguidores. Por vingança, Frank e seu grupo converteram-se ao catolicismo e criticavam o Talmud.

    Frank foi obrigado a deixar a Polônia, não por causa dos judeus, mas porque os poloneses não acreditavam em sua ortodoxia cristã.

    Ele foi o ultimo a encontrar algum sucesso invocando o nome de Shabetai Tzvi.