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JESUS E A IGREJA PRIMITIVA (0 E.C. - 66 E.C.)


"Eu conheço homens e eu digo que Jesus Cristo não é um homem comum. Entre ele e qualquer outra pessoa
não há termo de comparação. Alexandre, Cesar, Carlos Magno e eu, fundamos impérios.
Mas em que apoiamos a criação de nosso gênio? Na força. Jesus Cristo fundou seu império sobre o amor;
 e nesta hora milhões de pessoas morreriam por ele." 
 
Napoleão Bonaparte

   
    Durante o período de dominação romana, surgiu um novo movimento que vem influenciando direta e indiretamente o judaísmo durante os últimos 20 séculos, o cristianismo. Por volta do ano 0, além dos tradicionais grupos judaicos, Saduceus e Fariseus, formou-se um terceiro grupo que se tornava importante especialmente entre as camadas mais pobres da população. Eram os Essênios.

    Esse grupo pregava um judaísmo puro, por isso se mantinham longe das cidades, isolados, sem ambições pessoais, trabalhando apenas para o próprio sustento, não para acumular dinheiro. Além disso, eles acreditavam na vinda próxima do messias, baseado no pensamento de que o governo desastroso dos últimos hasmoneus traria o juízo final e, por conseqüência, o Mashiach.

    Um dos principais pregadores deste grupo era João Batista. Ele pregava para a população, próximo às margens do Rio Jordão e banhava as pessoas para estas se purificarem (cerimônia chamada de batismo). Jesus, impressionado com João Batista, decidiu virar essênio e conseguiu diversos seguidores. No Pessach do ano 33 E.C., Jesus entrou em Jerusalém e ficou extremamente revoltado ao ver comércio ocorrendo no templo sagrado, expulsando os comerciantes.

    Os governantes judaicos da região, temerosos de que Jesus quisesse iniciar uma rebelião contra Roma e, tentando melhorar sua imagem frente a Pôncio Pilatos (procurador romano na Judéia), decidiram prendê-lo. No interrogatório que Jesus teve com o Sumo-sacerdote do templo (que era indicado pelos romanos), ele afirmou que era o Rei dos Judeus. Nesse momento, o julgamento de Jesus passou a ser responsabilidade de Roma, já que se considerar rei dos judeus era um crime político. Houve então um julgamento condenando Jesus à crucificação (como curiosidade, a famosa inscrição sobre a cruz de Jesus, INRI, significa Jesus Nazarenus Rex JudaeorumJesus de Nazaré Rei dos judeus).

    Nessa época, era comum surgirem pessoas que se diziam o Messias, devido às péssimas condições de vida que os judeus enfrentavam e a dominação Romana que gerava um forte sentimento nacionalista entre os judeus. É interessante notar que a visão de Messias que os judeus tinham estava mais relacionada a vencer o jugo de Roma e tornar Israel o país dos judeus (governado pelo rei dos judeus), do que com a visão mítica, de um Messias que abre os portões de Jerusalém e ressuscita os mortos.

    Jesus poderia ter sido esquecido, como ocorreu com vários outros da mesma época. Contudo, nos anos que se seguiram a sua morte, os apóstolos de Jesus pregaram sua mensagem por todo o império Romano, afirmando que Jesus havia sido o Messias (Cristo em grego).  O cristianismo começou a se espalhar pelo império até se tornar a Religião oficial de Roma em 386 E.C, durante o reinado de Teodósio I.

    O episódio da crucificação de Jesus vem afetando a relação entre judeus e cristãos. A Igreja católica considerava até meados do século XX, o povo judeu responsável pela crucificação (mas mudou sua posição), tendo deste modo justificado algumas perseguições a judeus. Esta afirmação baseava-se nos evangelhos (livros que contam a vida de Jesus), especialmente no de Mateus. Cabe notar, porém, que muitos historiadores acreditam que não seja retratada apenas a verdade histórica nos evangelhos e que dificilmente a situação em que Pôncio Pilatos aparece como um governante fraco e indeciso seja verdadeira, aparecendo dessa forma para facilitar a aceitação dos romanos a Jesus.

    Outra questão interessante é como o cristianismo conseguiu se expandir tanto, enquanto o judaísmo não. É bastante provável que já um pouco antes do nascimento de Jesus, a população romana tendesse a acreditar em um único D´us ao invés do politeísmo. Existiam muitas comunidades judaicas espalhadas pelo império e muitos romanos costumavam se interessar pelos costumes e ideais judaicos. Contudo, não era comum a conversão, pois se tornar judeu exigia uma conduta muito difícil e havia alguns costumes inaceitáveis para os romanos, como a circuncisão (em Roma se valorizava muito a perfeição física sendo contra qualquer mutilação). Além disso, durante a formação do Cristianismo enquanto religião, muitos costumes pagãos foram transformados e adaptados para tornar o cristianismo mais aceitável entre os romanos. Entre eles encontra-se o batismo, que anteriormente, de maneira similar era usado para a iniciação de pessoas no culto do Deus Osíris no Egito e sacerdotes Gregos, especializados na purificação com água. O dia 25 de dezembro, escolhido como data do nascimento de Jesus era a data onde se celebrava a festa em homenagem ao Deus Mitra, um Deus solar muito popular entre os soldados romanos. Outra possível causa é que os cristãos eram mais pregadores, enquanto os judeus tendiam viver sua vida e não buscar intensamente converter aos outros.

    Inicialmente os cristãos consideravam-se apenas uma divisão dentro do judaísmo, mas, pouco tempo depois da morte de Jesus, separaram-se e formaram uma nova instituição. Até o meio do século IV os cristãos foram perseguidos por alguns setores do império romano. Os cristãos se organizaram em duas etapas. Primeiramente, surgiram as igrejas primitivas. Eram instituições nômades. O pregador, com um pequeno bando de seguidores, peregrinava para espalhar a mensagem ou assentava-se em algum lugar calmo para viver tranqüilamente, de maneira semelhante aos Essênios.

    Entre os anos 50 E.C. e 120 E.C., foram escritos os evangelhos que a igreja cristã considera canônicos (relatos verdadeiros da vida de Jesus). Mateus, Marcos, Lucas e João. Foram escritos na fase das igrejas primitivas e têm pequenas divergências entre si. O “Evangelho segundo Mateus” ilustra bem o intuito de converter as pessoas. É escrito para um público alvo: os romanos. É a narrativa que implícita que a morte de Jesus teria sido culpa do povo judeu, absolvendo Roma.

    Mais tarde, a Igreja se tornaria uma das maiores instituições do mundo, se dividiria inúmeras vezes, teria momentos negros, como Inquisição, Holocausto, escândalos sexuais e etc. Mesmo assim, o cristianismo é hoje a religião com maior número de adeptos no mundo.