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A DOMINAÇÃO ISLÂMICA (aprox. 600-1300 E.C.)


"É melhor para um líder errar na hora de perdoar do que na hora de punir." 
 Maomé  

   
    Durante o século 7 E.C. surgiu na Arábia uma nova religião que transformou de maneira significativa a vida dos judeus em diversas regiões do globo e vem influindo de maneira significativa no mundo até os dias de hoje. Foi a religião Islâmica, também conhecida como Maometismo.

    O Maometismo surgiu a partir das idéias de Maomé. Ele nasceu em uma família pobre, não tendo recebido muita educação. Porém, era muito inteligente e rapidamente passou de condutor de camelos a chefe de uma caravana e gerente dos negócios de seu empregador. Suas viagens para comprar e vender artigos possibilitaram-lhe entrar em contato com o judaísmo e o cristianismo. Com o passar do tempo, concluiu que seria importante aos árabes deixarem suas religiões pagãs e terem uma religião com um firme código de ética. Maomé, então, proclamou-se profeta e, a partir de revelações que supostamente lhe vinham através de um anjo, foi escrito o Alcorão (os muçulmanos consideram esta a última mensagem de Deus).

    Maomé começou a pregar, mas não estava conseguindo muitos adeptos e enfrentava uma forte oposição. Então, em 622 E.C., ele foi expulso de Meca, dirigindo-se para Medina. Esse episódio marca o ano I do calendário islâmico e é conhecido como Hégira. Nessa época, Maomé decidiu tentar converter os judeus, afinal a religião que ele pregava era muito semelhante ao judaísmo. Porém, os judeus não aceitaram as idéias de Maomé, viam algumas falhas na interpretação dele da bíblia e achavam absurdo ele se considerar um profeta superior a Moisés.

    Isso gerou a ira de Maomé. Ele teve novas revelações cheias de acusações contra os judeus e decidiu destruí-los. Pela falta de união das tribos judaicas na Arábia, Maomé conseguiu obter êxito na luta contra os judeus, fato que aumentou seu prestígio e o número de seus adeptos. Ele repetiu essa estratégia com as tribos não-judaicas da Arábia, forçando-os a conversão e, quando Maomé morreu em 632 E. C, toda Arábia já era muçulmana. Os muçulmanos continuaram sua expansão e conquistaram o Norte da África, parte da pérsia e parte da Espanha¹.

    A vida dos judeus nos territórios dominados pelos maometanos foi relativamente calma e próspera. Os judeus atingiram altos postos junto a vários califas. Eram protegidos, assim como os cristãos, por serem povos do livro. Todavia, a vida dos judeus nesta época não era de maneira alguma um mar de rosas. Eram obrigados a pagar dois impostos, o Kharaj e a Jhizia, por sua condição de judeus. Além disso, os maometanos estabeleceram o pacto de Omar, no qual era determinado que qualquer cidadão não maometano era inferior. Assim, era proibido aos não-maometanos falar desrespeitosamente de Maomé e sua religião, impedir que um cidadão se convertesse ao islamismo, construir novas sinagogas, entre outras proibições. Além disso, eles eram obrigados a vestir-se de maneira a serem facilmente distinguidos dos muçulmanos .Essa regra foi de extraordinária importância pois em 850 E.C., o Califa Mutawakil ordenou que os não muçulmanos fossem obrigados a usar uma estrela amarela, idéia que foi copiada depois por cristãos na Europa.

    Devido à relativa calmaria em que os judeus sob domínio maometano viviam, foi durante este período que os judeus tiveram sua idade de Ouro na Espanha e no Norte da África. Grandes poetas, gramáticos, filósofos e cientistas judeus surgiram nessa época. O período conhecido como idade de Ouro compreende o período de mais ou menos 900 a 1200 E.C. Os principais poetas, pensadores e médicos dessa época são:

    Chasdai Ibn Shaprut, médico e posteriormente conselheiro não oficial em negócios de Estado do Califa. Viveu entre 925 e 975 e, ao sustentar e encorajar sábios judaicos, lançou as bases do estudo Talmúdico na Espanha.

    Samuel Ibn Nagrela, dono de armazém, tornou-se conselheiro do rei de Granada e assumiu o título de Naguid (chefe dos judeus da Espanha Maometana).

    Salomão Ibn Gabirol, Moisés Ibn Ezra e Judá Ha-Levi foram os principais poetas dessa época e falaram especialmente da perseguição aos judeus, sobre a diáspora e a esperança da volta dos judeus a Israel.

    Moisés Ben Maimon, principal expoente da época, escreveu o Mishnê Tora, os treze princípios da fé, estabeleceu os níveis de Tzedaká, escreveu o guia dos perplexos e ainda foi um importante médico de sua época.

    O fim dessa idade de Ouro ocorreu principalmente devido às lutas entre os cristãos espanhóis e os muçulmanos espanhóis que tornaram a situação instável. Do fim deste período até o fim do século XIX, os judeus não atingiram em nenhum lugar do mundo tamanho desenvolvimento cultural e, pelas obras que nos foram deixadas neste período, ele é considerado um dos mais importantes da história judaica.


    1 Os árabes só foram definitivamente expulsos em 1492, num processo chamado de Reunificação Espanhola, conduzido pelos reis católicos, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão.