Artigos

HASKALÁ (séc. XVIII-XIX E.C.)


"Liberdade, Igualdade, Fraternidade" 
Lema da Revolução Francesa

 
    A Haskalá (Iluminismo Judaico) é um movimento político que prega uma atitude mais aberta para os valores seculares e o modo de vida dos não-judeus. Na Europa Ocidental os judeus viviam uma fase de evolução e avanços. O maior exemplo destas mudanças é a Revolução Francesa. Os ideais deste movimento, irradiados da França e levados por Napoleão aos territórios conquistados transformaram profundamente a sociedade judaica da época. Napoleão, por exemplo, extinguiu os guetos de todos os países que ele conquistou, permitindo a intensificação de um movimento incipiente: a Haskalá.

 

    Moses Mendelssohn é o grande personagem deste período da história judaica. Nasceu em Dessau em 1729 e morreu em 1786. Sabia hebraico, e estudou a Torá e o Talmud com o rabino David Frankel. Foi com este a Berlim, aos 14 anos e lá estudou tanto o Judaísmo como a filosofia. De tanto estudar sua coluna se encurvou e ficou com uma corcunda. Sua inteligência transcendia a sua imagem pouco estética. Acabou se aproximando de sábios alemães cristãos, de sua época, através de sua amizade com o filósofo Lessing. Torna-se um sábio reconhecido nos círculos literários de Berlim, nunca negando sua condição judaica e defendendo sua religião, diante de críticas e agressões como as do pastor Lavater.

 

    Mendelssohn compreendia que os judeus não poderiam permanecer para sempre no gueto físico e tampouco no gueto espiritual. Para isso inicia um processo que será a mola mestra da Haskalá ou o Iluminismo Judaico: abrir as portas da sociedade européia, aos judeus.

 

    Mas... Como fazê-lo?

 

    Não havia nenhuma experiência anterior: séculos de preconceito permeavam o ambiente. Filósofos iluministas consideravam a própria Igreja como execrável, com valores antiquados e inadequados aos novos tempos de “luz”. Os judeus eram vistos sob uma ótica que mesclava o preconceito que a sociedade cristã tradicionalmente devotava aos judeus, com um novo preconceito que via nos judeus, uma crença antiquada, arcaica e repleta de costumes inadequados aos novos tempos. Mendelssohn entendeu que havia que lançar pontes que aproximassem as duas margens. Para os judeus poderem passar à sociedade européia e para a sociedade cristã compreender e tolerar o Judaísmo e suas crenças. Um de seus feitos foi traduzir a Torá ao alemão. Uma tradução judaica que era diferente da tradução da Bíblia feita por Lutero. Em conjunto com outros sábios judeus, redigiu comentários ao texto bíblico, em hebraico, denominado BIUR, que mais tarde foi traduzido ao alemão.

 

    Assim judeus aprenderam o alemão e os alemães entenderam a nossa lei. Os rabinos ortodoxos consideraram este gesto uma heresia; já os iluministas elogiaram.

 

    Mendelssohn critica a visão destes rabinos e amplia a reflexão de seus tempos em sua obra “Jerusalém”: Para ele o Judaísmo não exige de seus adeptos uma “fé cega”, senão a compreensão e o cumprimento das leis históricas e morais.

 

    As idéias da Haskalá incentivam a emancipação da juventude, que procura distanciar-se do judaísmo ortodoxo e das ieshivot. Um número cada vez maior deles passa a freqüentar as universidades estatais e a usar a língua russa no lugar do iídiche. A assimilação tomava, então, proporções assustadoras.

 

    Os judeus lutavam e obtinham o reconhecimento de seus direitos civis e de sua integração social. Saíram dos guetos (alguns optaram por permanecer) e em grandes números optaram por assumir a sua participação nas lutas sociais e nacionais de suas pátrias: tornaram-se cidadãos franceses ou alemães de fé mosaica. Seguiam com suas crenças milenares em casa e/ou na sinagoga, mas assumiam a plenitude dos deveres e dos direitos de cidadania, nos países que habitavam. Tornavam-se parte da nação, assumiram ideais burgueses e liberais. Eram parte integral do nacionalismo europeu do século XIX. Podiam votar, serviam nos exércitos e alguns participavam de partidos e até se elegeram aos parlamentos de países da Europa ocidental, na segunda metade do século XIX. A partir de tudo isso, a máxima era: “Seja judeu em casa e alemão na rua”

 

    Muitos de seus discípulos iniciaram um processo de modernização do Judaísmo. Escolas foram fundadas, oferecendo uma visão mais ampla do Judaísmo. O renascimento do hebraico bíblico foi incentivado, mas mesmo não resultando, foi estímulo para uma posterior tentativa dos iluministas judeus russos no séc. XIX, que culminou com renascimento do hebraico através de Eliezer ben Iehuda, na virada do séc. XIX para o XX, em Israel. Os adeptos da haskalá foram chamados maskilim.