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ANTI-SEMITISMO, FILANTROPIA E SIONISMO (séc XIX E.C.)


"Se quiseres, não será uma lenda" 
Theodor Herzl

 
    Durante o século XIX, especialmente a partir de sua metade, ocorreram alguns movimentos que levaram a uma grande mudança no panorama judaico da Europa Ocidental. Surgiam, nessa época, os movimentos nacionalistas, que levaram à unificação da Alemanha e da Itália, que antes eram apenas vários pequenos estados separados. Surgiam, também, movimentos sociais importantes, como o socialismo. Essas idéias sociais, por sua vez, levavam a fortes reações conservadoras, por parte dos grupos historicamente dominantes, como o clero e os grandes proprietários de terra. Dentro de tudo isso, existiam os judeus.

    A Alemanha completou sua unificação em 1870. Com ela, a Alemanha iniciou seu segundo império, com o Rei Guilherme I no poder e seu ministro Otto Von Bismarck, “o chanceler de Ferro”. Com a vitória Alemã na guerra Franco-Prussiana, a maioria da população passou a apoiar os ideais do Nacionalismo Conservador, corrente defendida por Bismarck.

    Ao longo dos anos, algumas correntes desse Nacionalismo conservador, passaram a ver nos judeus uma ameaça à nação Alemã, pois eles não seriam verdadeiros alemães e não estariam interessados em lutar pelo bem da Alemanha. Surgiram livros defendendo esta tese anti-semita e o grupo ganhou força. Os judeus foram proibidos de entrar em certos bares e restaurante em algumas cidades. Para corroborar com estas idéias anti-semitas e aumentar o ideal nacionalista, também começaram a surgir teses pseudo-científicas, afirmando que o a “raça ariana”, formadora do povo alemão, é superior à “raça judaica”, idéia que inspira o governo nazista de Hitler.

    Na classe média Alemã, por sua vez, toma força nessa época o socialismo cristão. Os seus partidários na Alemanha, defendiam idéias sociais não tão radicais quanto aqueles inspirados por Marx. Eram opositores da alta burguesia, mas como não queriam se unir aos Marxistas deram uma conotação religiosa ao seu ódio e fixaram-no contra os judeus ricos.

    Na França, o nacionalismo também se desenvolveu. Contudo, os governantes franceses eram de tendência mais liberal, fazendo com que o anti-semitismo de origem nacionalista tivesse menos influência. Esses nacionalistas, com idéias anti-semitas, usavam-se dos jornais e revistas de direita para publicar teorias de conspiração e reavivar na população o antigo anti-semitismo adormecido em muitas pessoas, para assim aumentarem o seu poder.

    Em 1894, foi descoberto um bilhete que mostrava havia dentro do exército francês um traidor que repassava informações ao exército alemão. Um dos oficiais do exército disse que o traidor só poderia ser Alfred Dreyfus, afinal, ele era judeu. Dreyfus foi julgado por um tribunal militar e, mesmo sem provas, condenado à prisão perpétua numa ilha francesa da América. Cabe notar, que houve forte pressão dos jornais de direita a favor da prisão e grandes manifestações populares de ódio aos judeus.

    Algum tempo depois, um novo bilhete com informações ao exército ao Alemão, escrito com a mesma letra, foi descoberto. O oficial que acusou Dreyfus ainda tentou abafar o caso, mas os republicanos, que estavam no governo e faziam oposição aos nacionalistas divulgaram a fraude. Dryefus foi solto e as idéias anti-semitas voltaram a adormecer na população.

    No fim do século XIX, alguns poucos judeus eram muito ricos e alguns deles ajudaram a proteger os judeus europeus que sofriam com o anti-semitismo. Entre eles, se destacaram o Barão de Hirsch, Barão de Rotschild e Moses Motefiore.

    O Barão de Hirsch, fundou a ICA (Associação de Colonos Judeus) que ajudou os judeus da Rússia e da Romênia a emigrarem para a Argentina, Brasil, Canadá e Estados Unidos. A ICA continuou operando e transportando judeus para as mais diversas partes do mundo, produzindo resultados que influenciam a vida judaica até hoje. O Barão de Rotschild ajudou os judeus a se estabelecerem e Israel, dando dinheiro para os colonos, por exemplo, para a formação de kibutzim.

    Moses Montefiore atuou em favor dos judeus tanto no campo diplomático quanto no plano econômico. Na diplomacia, ele visitou o rei da Rússia que estava perseguindo os judeus russos e ajudou a amenizar a situação, em Damasco ele conseguiu a libertação de alguns judeus que haviam sido acusados de assassinato ritual de maneira injusta, entre outros casos. No plano econômico, ajudou no estabelecimento de judeus em Israel (na época parte do império turco-otomano e sendo conhecida como Palestina), sendo o financiador do primeiro bairro de Jerusalém construído fora das muralhas.

    Como uma forma de reação ao anti-semitismo crescente, para responder às necessidades espirituais ou sociais do povo judeu e influenciado pelos ideais nacionalistas da época, surgiu o Sionismo. Para reunir os sionistas, foram organizados os congressos sionistas, no qual o sionismo se desenvolveu.

    Nesses congressos, também ficaram notáveis as divisões dentro do próprio Sionismo. Surgiu o grupo sionista cultural, liderado por Achad Ha´am que defendia apenas um centro cultural e religioso em Jerusalém; o sionismo socialista, liderado por Borochov e que defendia a criação de um estado judaico socialista; o sionismo revisionista, liderado por Jabotinsky e Trumpeldor e que defendia um estado de Israel se estendendo pelas duas margens do Jordão; e o Sionismo Político, iniciado por Herzl que defendia um estado judaico e que é uma das bases da criação do atual Estado de Israel.

Com Herzl na liderança do movimento sionista nos primeiros anos, as tentativas de criação do estado se baseavam na diplomacia. Ele se reuniu com líderes alemães, turcos-otomanos e ingleses. Essa diplomacia levou à proposta Uganda, na qual a Inglaterra cederia a terra de Uganda aos judeus. Herzl, vendo o sofrimento pelo qual passavam, em especial, os judeus russos, se inclinou a aceitar a proposta. Contudo, ela foi levada ao congresso Sionista de 1903 e, justamente os judeus russos, que eram também os mais religiosos se recusaram a aceitar a proposta e se retiraram do congresso. Com isso, a proposta acabou não sendo aceita.

    Entre as principais realizações do sionismo durante o tempo em que Herzl esteve à frente, foram a criação da Organização Sionista Mundial, da Companhia Colonial Judaica, o próprio Congresso Sionista e o Fundo Nacional Judaico. Wolffsohn sucedeu à Herzl e continuou com as práticas diplomáticas. Com o passar do tempo, o sionismo obteve grandes avanços, promovendo a colonização da Palestina, com a Declaração Balfour (na qual a Inglaterra prometia ajuda ao Sionismo e ao estabelecimento de um estado judaico na Palestina) e com o fortalecimento moral da consciência judaica e o incremento da língua hebraica.