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AS CRUZADAS (1096-1289 E.C.)


"[...]tomai o caminho do Santo Sepulcro; arrebatai aquela terra à raça
perversa e submetei-a a vós mesmos"
 
Papa Urbano II - Discurso no Concílio de Clermont, 1095

   
    Durante a Idade Média, quase toda a Europa tornou-se cristã e o poder da igreja cresceu enormemente. Enquanto as terras estavam fragmentadas em diversos feudos, a igreja acabou tornando-se o poder central.

    Em 1096, notando todo o poder da Igreja, o Papa Urbano II ordenou a organização das cruzadas, com o intuito de libertar Jerusalém do domínio Maometano. Assim, cada igreja, cada paróquia, cada padre passou a pregar aos fiéis para que participassem nas cruzadas e salvassem suas almas. Gerou-se assim um exército pouco uniforme, do qual participavam pessoas que acreditavam profundamente nessa idéia, nobres em busca de riqueza e terras, servos em busca de um espaço para libertar sua raiva e sair um pouco das péssimas condições de vida e até mesmo crianças¹.

    Todavia, em pouco tempo, o objetivo das cruzadas deixou de ser apenas a libertação de Jerusalém e começaram a atacar tudo aquilo que não fosse cristão dentro da Europa (“Pra que ir até Jerusalém atacar os infiéis muçulmanos, se os judeus estão aqui entre nós?”). Nessas cruzadas de 1096, os judeus que foram mais atacados foram os da região da atual França e Alemanha.

    Além da perseguição aos infiéis, as Cruzadas também tinham objetivos político-econômicos. A Palestina fazia parte da rota de comércio que ia da Europa ao extremo oriente e era um importante entreposto comercial. A Terra Santa era o eixo que ligava Europa, Ásia e África. Vêem-se, também, as Cruzadas como um movimento de peregrinação em massa decorrente do medo que o fim do milênio havia provocado nas pessoas há pouco tempo atrás.

    Em 1144, foi convocada uma nova cruzada e os judeus voltaram a ser alvo de perseguição dos cruzados. Nessa época, o ódio religioso aos judeus já havia se tornado parte da mente de muitas pessoas. Felizmente, surgiu um defensor dentro da própria igreja que conseguiu, ao menos, tornar os ataques aos judeus mais moderados. Foi o Abade Bernard que denunciou os monges e padres que incentivavam o assassinato de judeus.

    Na época da terceira cruzada (em 1189), ataques aos judeus da França e da Alemanha já haviam se tornado comuns e não era necessário uma cerimônia especial para se iniciarem os ataques. Assim, os que mais sofreram durante essa cruzada foram os judeus ingleses. O recém coroado rei inglês, Ricardo Coração de Leão, parte numa cruzada. Ainda antes de partir, espalha-se o boato de que ele havia ordenado uma perseguição aos judeus. O povo atacou ferozmente os judeus e o exército de Ricardo teve muitas dificuldades para parar a perseguição. Sendo que três dos comandantes dos ataques foram mortos.

    Após sua partida, novamente começaram ataques aos judeus. Primeiro os cruzados das cidades do interior até alcançar grandes proporções. Cerca de 500 judeus refugiaram-se no castelo do rei e, após serem sitiados por um longo tempo, acabaram passando fome e, no fim, decidiram-se pelo suicídio. Cabe notar que os líderes dos ataques aos judeus na Inglaterra deviam grandes somas de dinheiro aos judeus e, logo após a morte destes, foram às catedrais onde estavam os contratos de empréstimo e os queimaram.

    O caráter econômico das Cruzadas se evidencia na Quarta Cruzada (1202-1204). Desta vez, Dândolo, o Doge de Veneza, fez com que os exércitos cristãos se desviassem de sua rota e atacassem Constantinopla e Zara. As duas cidades foram saqueadas. Com isto, os comerciantes venezianos assumiam controle do estreito de Bósforo, que lhes dava controle sobre o Mar Negro e, portanto, sobre o comércio que circulava nos países ao redor do Mar Negro.

    As cruzadas marcam uma grande transformação na Europa em vários aspectos. No aspecto comercial, marca um grande aumento do comércio no mediterrâneo. Isso acaba gerando o crescimento especialmente dos comerciantes de Veneza que aumentam em importância e acabam ocupando a posição que era dos judeus, que acabam tendo que buscar outra área de atividade, tornando-se, em especial banqueiros. Essa burguesia nascente começa se firmar como uma importante classe social, passando a influir de maneira importante na vida política dos países.

    As cruzadas também marcam um grande aumento no ódio religioso aos judeus e o auge do poder da igreja. Neste momento, vemos a intensificação do processo de centralização do poder do estado e da formação dos estados nacionais. No total, ocorreram oito cruzadas, sendo a última em 1289


    1 Houve uma "Cruzada das Crianças". A verdade sobre os fatos é disputada, mas o importante é o pensamento envolvido. Pensou-se que, como as crianças eram puras, isto é, não tinham pecado, poderiam conquistar Jerusalém. Isto nunca aconteceu, claro. Houve também uma "Cruzada dos Pobres". Houve a Cruzada de Reconquista, na Espanha, para reconquistar o território que os muçulmanos haviam tomado. E, por fim, houve uma cruzada contra os Cátaros (movimento cristão herege que surgiu na região de Languedoc, na França).