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AS REVOLTAS DO PERÍODO ROMANO (66-132 E.C)


"O Imperador tem que morrer em pé." 
Vespasiano 

   
    Depois da morte de Jesus, João Batista e outros pregadores, por volta do ano 60 E.C., a situação política da Judéia e do resto do país permanecia instável. Os sucessores de Pilatos não conseguiam manter a paz, pois os judeus revoltavam-se com os costumes dos Romanos. Logo, os Romanos restabeleceram o sistema dos procuradores, que durou até a eclosão da guerra.

    Essas modificações não influíram na situação econômica e social do povo em Eretz Israel, mas os impostos romanos levaram à ruína de grande parte dos agricultores que, então, emigraram para Jerusalém, que cresceu em quatro vezes a sua população. Devido à grande população, o trabalho era raro, formando assim um grande grupo de desocupados.

    Os romanos já não confiavam nos judeus, deixando de lhes dar armas, ou seja, excluindo o soldado judeu.

    Os judeus não agüentavam mais a pressão sofrida pelos romanos, porém, estavam divididos entre classes: a classe alta favorecia a dominação romana, enquanto a classe baixa era favorável à guerra. Formou-se um grupo de extremistas fariseus, os “kanaim”(Zelotes), que eram favoráveis à guerra imediata e provocavam continuamente os romanos.

    O último dos procuradores era Floro, um homem ambicioso e desprovido de princípios que só queria enriquecer. O seu comando chegou a um ponto crítico quando tomou medidas violentas, como o saque do tesouro do Templo, quando um grupo de judeus zombou¹ dele. Irritado com a atitude dos judeus, Floro ordenou um massacre e milhares de judeus foram mortos por soldados romanos. Esta série de incidentes urbanos deu origem à primeira das guerras contra Roma: era a primavera do ano de 66 d.C.

    Logo, forma-se uma rebelião contra Roma, gerando uma divisão entre os judeus, pois alguns não queriam participar de uma rebelião, o partido da paz era constituído pela classe alta, portanto a guerra passou a ser tanto contra a opressão estrangeira quanto contra a aristocracia judaica.

    Os acontecimentos se sucederam rapidamente e logo se formou um governo judaico e o Sinédrio era o responsável pela defesa do país. Nas cidades como Cesaréia, onde a população era mista, iniciaram-se lutas, causando a morte de vários judeus.

    Durante as festividades de Sucót de 66 d.C, foi derrotado o exército Sírio pelos judeus. A guerra iniciava-se com uma vitória expressiva. Para o comando da Galiléia foi chamado Yossef ben Matitiahu², sua missão era construir fortificações, alistar homens e treiná-los para um combate prolongado. Porém, foram esperanças falsas depositadas neste homem, pois passou meses tentando assegurar sua autoridade, já que não acreditava na vitória dos judeus. Isto facilitou o ataque dos romanos.

    O exército imperial era comandado por Vespasiano, que partiu de Antióquia com mais de sessenta mil homens para Galil. Após, conquistou cidade por cidade. Yossef passou para o lado romano e estes fatos foram decisivos para a sorte posterior da guerra.

    Os “kanaim” haviam decidido se preparar para a guerra sob o comando de Yonahan, porém a luta fratricida prosseguiu e os aristocratas chamaram apoio do sul, enquanto se desenvolvia a luta civil entre os judeus, Vespasiano foi chamado a Roma para substituir Nero. Na Palestina, o comando foi entregue a seu filho, Tito, cuja tarefa era conquistar Jerusalém. Ele avançou lentamente a tal ponto que sua conquista seria um passeio. Na primavera de 70 d.C, suas tropas acamparam em frente a Jerusalém e iniciaram o assédio a primeira muralha, somente então que as facções judaicas perceberam seu erro e se uniram, mas já era tarde demais, os judeus lutaram heroicamente e morreram de fome e sede, já os Zelotes morreram lutando. No dia 9 de Av de 70 E.C. as últimas resistências foram vencidas e o Templo incendiado, sobrando apenas o lado que existe até hoje.

    Apesar da queda de Jerusalém, os Zelotes permaneceram lutando e seu ultimo grupo a cair foi em Massada, fortaleza próxima ao mar morto, chefiados por Eleazar ben Yair. Eles se suicidaram para não serem capturados pelos romanos³.

    Todas as revoltas podem ser ofuscadas pela revolta de Bar Cochba. Com a subida de Adriano ao trono de Roma, começa uma tendência de pacificação no Oriente próximo, Adriano reconhece devolver Jerusalém aos Judeus e construir um novo templo, assim começa uma mobilização de pessoas vindas de Israel e da Diáspora, no entanto, poucos anos depois, o imperador muda de opinião (motivo desconhecido), querendo agora dar uma característica romana para Jerusalém. Adriano queria mudar o nome de Jerusalém para Aelia Capitolina e erguer um templo para o deus Júpiter, do qual Adriano era sumo-sacerdote. Adriano se instala em Jerusalém e sofre atos de terrorismos dos Judeus.

    Shimon Bar Cochba destaca-se como figura messiânica durante a rebelião, torna-se líder da guerra e assume a liderança do povo, apoiado até por Rabi Akiva. Os rabinos da época haviam pregado a paz, mas depois que Roma desfizera a promessa de reconstruir e Jerusalém, tentando construir uma cidade pagã, eles passaram a apoiar a revolta. Rabi Akiva escolheu Shimon, da cidade de Koziba para ser líder da rebelião e mudou seu nome, para reforçar a identificação com o Messias.

    Em 132 surge a revolta e uma convocação obrigatória, das qual os que se recusam a participar são duramente castigados. Na primeira fase da luta, Bar Cochba domina a Judéia, inclusive Jerusalém, estabelecendo um governo judaico autônomo. Na segunda fase, chegam reforços romanos, ainda assim os judeus levam vantagem, ampliando assim seu domínio territorial, alcançando agora o mar. A terceira e decisiva parte, inicia-se com a chegada de legiões romanas da Europa, Galil é reconquistada pelos romanos e os combatentes judeus são forçados até seu ultimo reduto, Beitar, uma cidade fortificada numa cadeia montanhosa ao sudoeste de Jerusalém. A guerra dura três anos, terminando com a queda de Beitar, no verão de 135 e a morte de Bar Cochba, embora ainda houvesse combatentes nas cavernas da Judéia.

    Sobre a guerra, podemos dizer que os romanos evitaram ficar frente a frente com os judeus, apenas cercavam as cidades e tiravam seu alimento, dessa forma, lentamente morriam, apenas poucos sobreviviam, quase toda a Judéia foi destruída, no entanto, os romanos também sofreram graves perdas.

    A revolta tinha sido apoiada por Rabi Akiva e seus alunos, como conseqüência da luta, são mortos quase todos os rabinos daquela geração por infração da lei, já que Adriano proíbe o estudo e da Torah, a reunião do Bet Din, da Academia, a circuncisão, a observância do Shabat e a fixação do calendário, importante para a demarcação das festividades.




   1 Os judeus fizeram circular um sacola, pedindo esmolas para Floro.
   2 Flávio Josefo é seu nome romano. Foi um importante historiador, especialmente na parte de história do povo judeu.
   3 A vitória sobre os judeus foi comemorada com a construção do Arco do Triunfo, onde diz: “JUDAEA CAPTA” – a Judéia foi conquistada.