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PRIMO LEVI (1919-1987)


Primo Levi nasceu em Turim, Itália, no dia 31 de julho de 1919. Graduou-se em química, mas se tornou mundialmente famoso ao sobreviver ao campo de Auschwitz e escrever, de maneira crua e fria, os horrores pelos quais passou.

        Vindo de uma família judaica sefaradita rica, mantinha as tradições e costumes judaicos, ao mesmo tempo em que sua família estava bem integrada à sociedade italiana. Durante os primeiros anos da ditadura fascista de Mussolini, a situação dos judeus era de relativa tranqüilidade e o pai de Levi, a contra-gosto, torna-se membro do partido fascista. Em 1938, entretanto, a situação na Itália se complica. Por pressão de Hitler, Mussolini acaba adotando leis racistas, semelhantes às de Nuremberg. Nessa época, os judeus são afastados dos cargos públicos, excluídos das faculdades e têm seus bens confiscados.

        Apesar dessas dificuldades, em 1941, Primo Levi consegue seu doutorado em química. Nicolla Laporta, um professor de pós-graduação anti-fascista, aceitou-o como estudante, apesar das leis que expulsavam os judeus das universidades.

        Em 1943, junto com alguns amigos, Primo Levi cria um grupo de “Partigiani” para combater os fascistas no norte da Itália. Inexperiente, acaba sendo preso em dezembro e é mandado para um campo de concentração fascista, na Módena.

        Dois meses mais tarde, oficiais da SS alemã, chegam em Módena com ordem de deportar todos os judeus. Levi é levado para Auschwitz. A partir de agosto, começa a receber ajuda de um italiano não-judeu que lhe dá sopa. Nos últimos meses, é reconhecido como químico e passa a trabalhar na fábrica, não mais na neve. Em janeiro de 1945, com o avanço do exército vermelho, os nazistas evacuam o campo. Porém, como Levi estava doente, acaba sendo deixado no campo, mas sobrevive.

        Quando se recupera, Levi vai a um campo de refugiados em Cracóvia, onde se torna farmacêutico, recebendo uma porção de alimento maior por isso. Em junho, inicia sua viagem de volta, chegando à Itália somente em outubro de 1945.

        Finalmente em casa, Levi escreve sua principal obra “Se isto é um homem”. Primeiramente ela é recusada pelas grandes editoras, sendo publicado por uma pequena editora e não atingindo boas vendas. Porém, em 1958, uma nova edição é feita, tornando o livro mundialmente conhecido.

        Entre os anos de 1945 e 1977, Levi é diretor de uma fábrica de produtos químicos. Outros livros que ele escreve são “A trégua”, “Os afogados e os sobreviventes” e “Tabela Periódica”, a maioria autobiográficos. Em abril de 1987, talvez por suicídio ou pelo efeito de remédios que tomava, é encontrado morto no poço de sua casa.

        Em sua obra, Primo Levi mostra, como nenhum outro autor, o processo de desumanização que ocorria nos campos de concentração, onde as pessoas não tinham mais nomes, não tinham mais roupas, não tinham bens, se tornavam apenas um número no sistema. Outro ponto importante de sua obra são as emoções que o campo causa, como quando ele afirma: “Me tornei judeu em Auschwitz. A plena consciência da minha diferença me foi imposta. Alguém, sem nenhuma razão, decidiu que sou diferente e inferior. Por uma reação normal, me senti diferente e superior. Neste sentido, Auschwitz me deu algo que ficou, recuperei meu patrimônio cultural, minha identidade como judeu”.

       Assim, com sua obra, Primo Levi nos deixa um legado de memória para que não esqueçamos o que aconteceu e, assim, impedir que aconteça novamente. Ele nos lembra a memória de todos aqueles que, infelizmente, não viveram para contar sua história.

Shemá
Primo Levi

Vós que viveis tranqüilos
Em suas cálidas casas
Vós que encontrai regressando à noite
Comida quente e rostos amigos
Considerai se é isto um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no inverno.
Meditai que isto aconteceu
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara

“Destinados a uma morte quase certa, resta-nos uma única opção, a de não permitir que nos façam virar um ‘nada’”.