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HAGADÁ


 A palavra Hagadá vem do verbo “Higuid” ( ? ? ? ? ) que significa “expor”. Ela nasceu da necessidade do povo de registrar suas tradições orais e seus códigos de conduta. A primeira forma de expressão da Hagadá foram os midrashim: interpretações em aramaico contadas como fábulas e parábolas feitas pelos sábios após a leitura das parashot  que começaram a ser feitas já a partir do século V a.e.c.

            A Hagadá não é um livro, nem uma conjunto de lendas, mas um conjunto de criações literárias compostas através dos séculos que se propõem a interpretar leis e normas do judaísmo,  através de lendas, parábolas, anedotas e provérbios.

            As leis que a Hagadá tenta decodificar através de suas analogias são provenientes da Halachá: a Torá e toda sua interpretação encontrada na Mishná e nos Talmudim da Babilônia e de Jerusalém (compilações das Leis Orais e de discussões rabínicas). Porém, é importante lembrar que a Hagadá mantém uma “fusão” com a Halachá. Mesmo ela se originando das interpretações dos textos bíblicos, estes acabaram sendo considerados partes dela posteriormente. 

            A obra inteira não se trata do pensamento de um só rabino ou de uma só escola, mas as manifestações intelectuais de sábios de diversas gerações que tentaram responder as questões filosóficas de seus tempos, tais como: os atributos de D’us, a criação do mundo, o antagonismo do bem e do mal, etc.

            O período de criação da Hagadá compreende desde os dois últimos séculos de antes da Era Comum até a Idade Média. Em questões geográficas, as influências principais são do Reino de Judá e da Babilônia, mas também há obras oriundas do Egito, da Índia e de comunidades da Ásia Menor.

            O idioma principal da obra é um hebraico mesclado de aramaico, as línguas são usadas continuamente e só o domínio de ambas possibilita uma leitura perfeita. Devido todo o tempo que o povo judeu esteve perto da cultura helenística e romana, é possível também detectar a presença cultural e lingüística de ambas civilizações.

 

            A Hagadá se divide em dois gêneros literários: Livros de “Halachá" e antologias.

            O primeiro grupo inclui:

            - Mishná: Complilação de seis livros da tradição oral (Zeraim (sementes), Moed (festas), Nashim (mulheres), Nezikim (danos), Kodashim (santidades) e Teharot (purificações)). Os rabinos que compuseram esta obra são chamados de Tanaim.

            - Toseftá: Recompliação de textos dos Tanaim que não foram incluídos na Mishná

            - Talmud de Jerusalém: Obra enciclopédica que está redigida como um comentário da Mishná.

            - Talmud da Babilônia: Mesma proposta do Talmud de Jerusalém, mas este foi feito durante o período da diáspora, na Babilônia.

            O segundo grupo, as antologias, compreende um vasto número de comentários bíblicos. Citaremos aqui os mais importantes:

            - Avot de Rabí Natán: É um texto escrito como comentário da Pirkei Avot (Ética dos Pais) e da Mishná.

            - Midrashim do texto Bíblico: Antologia que serve de comentário do texto bíblico (Bereshit, Shemot, Vaiycrá, Bamidmar e Devarim) e das Meguilot (Shir Hashirim, Ruth, Eichá, Cohelet e Ester)

            -Yalkut Shimoní: Midrashim que não só comentam o texto da Torá, mas também os livros proféticos (Neviim) e os histórico-filosóficos (Ketuvim).  

      

            A Hagadá não se limita somente ao objetivo de interpretar as leis da Torá e facilitar o entendimento das escrituras. Ela é um símbolo de esperança para qualquer momento de dificuldade do povo, para que este saiba que seus valores estão documentados e são possíveis de ser resgatados a qualquer momento.