Biografias
THEODOR HERZL (1860-1904)
Vida
Salvo o período bíblico, nenhum outro judeu causou tamanho impacto sobre o seu povo, nenhum judeu contribuiu de forma tão efetiva e bem sucedida para mudar o curso histórico judaico que, cem anos atrás, parecia destinado a uma estagnação definitiva.
Theodor Herzl tinha uma personalidade profundamente complexa, um gigante na vida pública e um homem infeliz na vida pessoal. Húngaro de nascimento, alemão por cultura e austríaco por naturalização, era um típico intelectual vienense da segunda metade do século XIX, época em que Viena era a capital cultural da Europa, mais do que Paris. As biografias rotineiras apontam-no como um judeu totalmente assimilado, o que não é verdade. Embora tivesse crescido num ambiente secular, com mínimos contatos com a religião, sempre teve preocupações, sentimento e orgulho judaicos.
Descendente de Jeanette e Jakob, casal de classe média alta, Theodor (Benyamin Zeev) Herzl nasceu em Budapeste, Hungria, no dia 2 de maio de 1860. Em 1878, a família Herzl mudou-se para Viena. Quando começou a estudar advocacia, já preocupado com questões referentes ao anti-semitismo, Herzl decidiu que sua vocação se voltava para as letras e não para o direito, dando os primeiros passos no jornalismo.
Em 1885, foi nomeado funcionário da Corte Distrital da cidade e no ano seguinte conheceu Juliette Naschauer, filha de um industrial milionário, com quem viria a se casar. Pouco depois, partiu para Paris como correspondente do jornal “Neue Freie Presse”.
Herzl morreu em 1904 de pneumonia. Em 1949 os restos mortais de Herzl foram levados para o Estado de Israel e enterrados no Monte Herzl, em Jerusalém.
Obra
Theodor se matriculou na Faculdade de Direito, terminando a carreira, graduado como doutor em leis, em 1884. Algum tempo exerceu a advocacia em Viena e uma breve temporada esteve no Tribunal de Salsburgo, mas logo se convenceu de que sua vocação era o jornalismo e abandonou a jurisprudência dedicando-se exclusivamente as letras.
Herzl escreveu e publicou seu primeiro artigo sendo ainda aluno de Bacharelado, e durante seus estudos universitários se interessou mais pela literatura que pelo direito. Para um jovem judeu de talento estavam a disposição as colunas dos grandes jornais e revistas austríacos, sendo que uma considerável parte deles estava nas mãos do capital judeu. Os artigos de Herzl foram bem recebidos, e não lhe foi difícil entrar na redação de um dos maiores e mais influente jornais de Viena: Neue Freie Presse.
Alternando com o jornalismo, Herzl escreveu também para o teatro varias comedias, quase todas relacionadas de algum modo com a questão judaica. Entre os mais conhecidos títulos estão: Seine Hoheit (Sua Alteza), Der Flüchtling (O fugitivo), Das neue Ghetto (O novo Gueto), Solon in Lydien (Solón na Lidia), Unser Kätchen (Nossa Catalina), Grethel, Prinzen aus Genieland (Príncipe do país dos gênios), Estas comedias, no seu tempo celebradas por um setor público, obtiveram um êxito discreto, demonstrando que o teatro não era o verdadeiro campo de trabalho para Herzl, como tampouco a poesia, que as vezes cultivava. A produção literária de Herzl era mais do que modesta para poder assegurar fama a seu nome.
Por cinco anos, de 1891 a 1896, permaneceu Herzl na capital da França informando a seus leitores sobre a política francesa. Suas crônicas de correspondente e outros artigos, publicados depois em livros, testemunham o olho penetrante e a agilidade de Herzl como observador político.
Em 1896, foi chamado a Viena para ser o encarregado da seção literária do Neue Freie Presse, que levou até sua morte. Esses anos foram decisivos para sua atividade política.
O famoso caso Dreyfuss, do qual foi testemunho ocular, lhe fez ver e compreender melhor o trágico problema judeu. Esse processo foi a revelação e um ponto de partida para Theodor.
Então decidiu Herzl que iria se dirigir para as massa judaicas, odiadas e perseguidas. Esperando delas compreensão e apoio, escrever o pequeno Der Judenstaat (O Estado Judeu, 1896). Foi traduzido imediatamente ao inglês, francês e russo, despertando um enorme interesse das massas judias pelo sionismo político.
Em 1897 fundou o jornal "Die Welt" (O mundo), mas teve dificuldades financeiras em prossegui-lo, alem de que para muitos, era uma fonte de desgostos. Herzl esteve a ponto de deixar seu emprego no Neue Freie Presse, mas como não possuía de outros meios para viver, seguiu trabalhando.
Mais dificuldade encontrou ao convocar o Primeiro Congresso Sionista, em 1897. Pensou em fazê-lo em Munich, mas os rabinos alemães se opuseram, pois acharam que causaria uma nova onde de anti-semitismo. Muitas outras organizações se opuseram, mas Herzl prosseguiu em sua decisão e logrou reunir o Primeiro Congresso Sionista na Basiléia.
Nesse congresso, se criou a Organização Mundial Sionista e se criou o Programa da Basiléia, que dizia: "O objetivo do sionismo é criar um lograr na Palestina para o povo judeu, assegurado por um direito público". Resumindo os resultados deste congresso, Herzl anotou em seu diário: "Na Basiléia fundei o Estado Judeu; se eu dissesse isto hoje, seria objeto de risos universais; em cinco anos, talvez em cinqüenta, todos o verão".
O Segundo Congresso Sionista foi celebrado em 1898, também na Basiléia, e foi destinado a questões práticas como a criação de um Banco Colonial como instrumento financeiro do Sionismo. O terceiro Congresso, em 1899, se caracterizou por apresentar diferenças ideológicas. Os práticos aconselhavam a imigração imediata, enquanto os "espiritualistas", como Ahad Haam, estavam satisfeitos com a criação de um centro espiritual na Palestina. O quanto Congresso, em 1900, Londres, resultou no aumento do interesse Britânico pela causa sionista. O Quinto congresso, que se reuniu novamente na Basiléia, no ano de 1901, consolidou a criação do Banco Colonial e também se criou o Fundo Nacional Judaico.
O sexto Congresso Sionista foi conhecido como "Congresso de Uganda", pois Herzl recebeu uma proposta de assentar os judeus em uma região de Uganda, na África. Na Basiléia, em 1903, esse congresso teve uma grande oposição, pois muitos diziam que traía os ideais do judaísmo e que Uganda não era Tzion. Ficou decidido que se mandaria uma missão para explorar a terra de Uganda. Esse foi o último congresso que Herzl presidiu. Já cansado em com suas forças físicas debilitadas, Herzl seguia se reunindo com chefes de estado, negociando sobre o futuro Estado Judeu.
Altneuland ("Velha Nova Pátria"), o segundo livro de Herzl, uma novela visionária que descrevia a vida no futuro estado judaico a ser criado na Terra de Israel, foi publicado em 1902.
Herzl Criou uma poderosa organização Sionista que se estendeu por todo o mundo. Em efeito, somente depois de quarenta e cinco anos após sua morte, o Estado Judeu foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas.
O Caso Dreyfuss
Em 1894, o capitão Alfred Dreyfuss, um oficial judeu do exército francês, foi acusado injustamente de traição, principalmente devido a atmosfera anti-semita reinante. Herzl cobriu o caso, pois era correspondente em Paris do influente jornal vienense “Neue Freie Presse” e presenciou a população gritando “Morte aos judeus” na França. Refletindo sobre soluções para o povo judeu, concluiu que a emigração massiva dos judeus para um país que seria seu próprio país era a solução. Assim, o caso Dreyfuss passou a seu um dos fatores determinantes na gênese do Sionismo Político.
Herzl chegou a conclusão que o anti-semitismo era um fator estável e imutável na sociedade humana e que a assimilação não solucionaria o “problema judeu”. Meditando sobre essa idéia de soberania judaica, mesmo sendo considerado “louco” por muitos líderes judeus, publicou o pequeno, porém marcante livro “O Estado Judeu” (Der Judenstaat, 1896)
O Estado Judeu
Em 1896 foi publicada uma obra pequena e objetiva denominada “O Estado Judeu”, que mudou o curso da história dos judeus. Herzl afirmava que a essência do problema judaico não era individual, mas sim nacional. Declarou que os judeus são um povo e sua situação podia ser transformada em uma força positiva por meio do estabelecimento de um Estado Judeu com o consentimento das grandes potências. Ele viu a questão judaica como um problema de política internacional que então deveria ser tratado nesse campo.
Ele concluiu que, se os povos do mundo continuarem alojando entre eles, o povo de Israel, distinto em religião e costumes, o anti-semitismo aumentaria e assim cresceria o despertar de uma nação judia. Cedo ou tarde, as nações do mundo necessitarão encontrar uma solução adequada para o problema judeu, e a única solução para esse problema seria a criação de um estado judeu. A maneira de realizar isso seria dar uma "faixa de terra", que seria suficiente para as necessidades básicas de nosso povo, de todo o resto nos mesmos nos preocupamos.
Herzl pensou na criação da Jewish Company (Companhia Judaica), uma empresa de colonização que liquidaria os interesses e os bens dos imigrantes nos paises da diáspora, e logo organizaria a ordem econômica na nova pátria. Pensou: "Ao mesmo tempo a companhia venderá propriedades, trocará-las. Para uma casa, oferecerá uma casa no país novo; e para a terra, terra no país novo; tudo que é, se possível, transferido ao solo novo no mesmo estado que era no velho. E esta transferência será uma fonte grande e reconhecida do lucro à companhia. As casas oferecidas na troca serão mais novas, mais bonitas, mais confortáveis, e as propriedades aterradas de um valor maior do que aquelas abandonadas; mas custarão à companhia comparativamente pouco, porque terá comprado a terra muito barata.”
Também pressupôs a "Society of Jews" (Sociedade dos Judeus), que seria uma espécie de procurador ou gestor dos judeus, cuja tarefa consistia em explorar cientificamente o país e conseguir concessão e reconhecimento internacionais, isto é, tinha a autoridade de constituir o novo Estado Judeu. “Este órgão do movimento nacional, da natureza e das funções de que nós estamos em último tratar, no fato, será criado antes de tudo mais. Sua formação é perfeitamente simples. A sociedade dos judeus recolherá todas as declarações disponíveis de homens de estado, parlamentos, comunidades judaicas, sociedades, se expresso nos discursos ou nas escrituras, nas reuniões, nos jornais ou nos livros (...). Umas tarefas mais difíceis será a investigação por peritos do país novo e de seus recursos naturais, o planejamento uniforme da migração e do estabelecimento, trabalho preliminar para a legislação e a administração, etc., devem racional ser evoluídas fora do esquema original.(...). Nosso primeiro objeto é, como eu disse antes, supremacia, assegurado a nós pela lei internacional, sobre uma parcela do globo suficientemente grande para satisfazer a nossas exigências justas”.
Eis outros pensamentos sobre o Estado Judeu:
LÍNGUA
“Pôde-se sugerir queremos uma língua atual comum, mas isso apresentaria dificuldades. Nós não podemos conversar um com um outro no hebraico. Quem de nós tem um conhecimento suficiente no hebraico para pedir um bilhete de trem nessa língua?! Tal coisa não pode ser feita. Contudo a dificuldade é abolida muito facilmente. Cada homem pode preservar a língua em que seus pensamentos estão no repouso. Nós remanesceremos no país novo o que nós somos agora aqui, e nós nunca cessaremos de estimar a memória da terra nativa fora de que nós fomos dirigidos.”
TEOCRACIA
“Devemos acabar tendo uma teocracia? Não, mesmo. O destino nos une, o conhecimento nos da liberdade. Nos devemos, então, nos prevenir das tendências teocráticas.Nos devemos manter nossos sacerdotes confinados dentro dos seus templos, da mesma for que devemos manter nosso exército profissional confinado no seus quartéis. O exército e a religião merecem altas honrarias pelo seu valor funcional. Mas eles não devem interferir na administração do Estado que lhes confere uma função distinta, mais do que isso, eles vão cuidar das dificuldade externas e internas.
Todo homem será livre, imperturbável na sua fé ou na sua descrença assim como pertence a sua nacionalidade. E, se ocorrer que homens de outros credos e diferentes nacionalidade, venham viver entre nós, nós concederemos com honrada proteção e igualdade, perante a lei. Temos aprendido tolerância na Europa. Isso não é dito com sarcasmo; para o anti-semitismo atual, isso só poderia ser compreendido pela antiga intolerância religiosa. “
LEIS
“Quando a idéia de um Estado começa a se aproximar da realização, a Sociedade dos Judeus nomeará um conselho de Juristas para fazer o trabalho preparatório da Legislação. Durante o período de transição, isso deverá atuar como princípio que todo imigrante judeu, será julgado de acordo com a lei do país ao qual ele provém. Mas eles devem tentar unificar essas várias leis para formar um sistema moderno de legislação, baseado nas principais parcelas do sistemas anteriores. Isso deverá ser uma típica codificação, incorporando todas as demandas de justiça social atual.”
O EXÉRCITO
“O Estado Judeu é concebido como um estado neutro. Isso requererá, portanto, um exército profissional, equipado, é claro, com todo requisito do mais moderno equipamento de guerra, para preservar a ordem interna e externa.”
A BANDEIRA
“Não possuímos bandeira, e precisamos de uma. Se nós desejamos liderar tantos homens, devemos criar um símbolo acima das suas cabeças.
Eu sugeriria uma bandeira branca, com sete estrelas douradas. O campo brando simbolizaria a nossa "nova e pura" vida. As estrelas são as sete horas douradas do dia de trabalho. Para podermos marchar para dentro da Terra Prometida, carregando o emblema da honra”.