Material Chidon Katan

 

YITZHAK RABIN

"Fui homem de armas durante 27 anos. Enquanto não havia chance para a paz, aconteceram múltiplas guerras. Hoje, estou convencido da oportunidade que temos de realizar a paz, grande oportunidade. A paz leva intrínsecas dores e dificuldades para poder ser alcançada. Mas não há caminho, sem estas dores."

Yitzhak Rabin foi o primeiro governante sabra de Israel.

Sua história pessoal não é senão a própria história de Israel.

 

JUVENTUDE

           

Yitzhak Rabin nasceu em Jerusalém em março de 1922. Seu pai e sua mãe possuíam cidadania russa, embora seu pai, Nehemiah, tenha imigrado para Israel dos Estados Unidos, e servido na Primeira Guerra Mundial como voluntário da Legião Judaica. Sua mãe, Rosa, (na foto com ele bebê) foi uma das primeiras membras da Haganá, a principal organização de defesa judaica.

 

Rabin cresceu diante da violência que havia entre árabes e judeus. Em 1942, alistou-se nas forças do Palmach, braço armado da Haganá. Desde então, Rabin ligou sua vida à segurança de Israel, na qual trabalhou até seu último dia.

            Yitzhak conheceu Léa, sua esposa, quando ela estudava na Universidade e ele era oficial do Palmach. Casaram-se durante a Guerra de Independência, em 1948. Certa vez, sua esposa descreveu esse encontro, perto de uma sorveteria em Tel Aviv, como amor à primeira vista. Com Léa, teve dois filhos: Dalia e Yuval.

 

 

 

GUERRA DE INDEPENDÊNCIA E O NAVIO ALTALENA

 

            Na Guerra de Independência, iniciada em 1948, o jovem oficial foi enviado à frente de Jerusalém, um dos principais centros de enfrentamento entre árabes e judeus. Sua responsabilidade era de grande peso, pois deveria defender a cidade e os caminhos que a ela conduziam, pontos estratégicos para a defesa de Israel.

 

            Quando a ONU negociou o primeiro cessar das hostilidades entre Israel e os poderes árabes em junho, ambas as partes comprometeram-se a não se rearmarem durante o período de trégua de quatro semanas.  O Irgun, grupo armado judeu separado da Haganá, no entanto, achava que não podia se perder tempo e encomendou um barco com carregamento de armas da Tchecoslováquia no cargueiro Altalena, anunciando sua intenção de desafiar a proibição do governo israelense e desembarcar as armas clandestinamente quando chegasse a embarcação.

            Quando o Altalena chegou e, em desobediência às claras ordens do governo, as armas começaram a ser contrabandeadas para a costa, Yitzhak Rabin, seguindo ordens do chefe do governo israelense, distribuiu entre os soldados do Exército granadas, e comandou o grupo que explodiu o navio, matando mais de 100 judeus e impedindo que as armas fossem trazidas a terra.

 

            Ao ser assinado o cessar-fogo, em 1949, Rabin não deixou seu uniforme do exército; a indispensável segurança do Estado necessitava sua permanência.

 

 

EXÉRCITO E A GUERRA DOS SEIS DIAS

          

Rabin entrando em Jerusalém com outros militares judeus

            Aos 31 anos, era o mais jovem dos generais do Tzahal (exército israelense). Em 1964, assume como Chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

           

             Quando, em 1967, Egito, Síria e Jordânia passaram a acumular tropas nas fronteiras com Israel, Rabin dá o sinal verde para Israel iniciar o combate. Em três dias, após arduos combates, o Exército jordaniano cede, e Israel conquista Jerusalém. No dia seguinte, o Egito se rende. O último combate dá-se contra os sírios, e Israel termina a guerra com o triplo de território que tinha ao inicio, devido a suas conquistas

 

 

EMBAIXADOR NOS ESTADOS UNIDOS

 

            Em 1968, ao se aposentar do Exército, Rabin foi escolhido para ser embaixador de Israel nos Estados Unidos. Neste período cresceram as relações entre as duas nações.      

           

Rabin convenceu os Estados Unidos de que, para a sobrevivência do Estado de Israel, este necessitava de modernos armamentos. Sua experiência foi tão positiva, que, quando deveria voltar para casa, foi indicado para seguir no cargo, assumindo seu segundo mandato como embaixador nos E.U.A.

 

 

PRIMEIRO MINISTRO – 1974 à 1977

 

            Em 1974, passada a Guerra de Iom Kipur (1973), e desgastado o governo de Golda Meir, esta renuncia a seu mandato como Primeira-Ministra, sendo substituída por Yitzhak Rabin.

 

            Como Chefe do Governo, se preocupou com a economia e com os problemas sociais vividos pelo país. Com mediação dos Estados Unidos, Rabin concluiu com a Síria e o Egito acordos de entendimento, aliviando a tensa relação entre os países.

           

            Em 1976, ainda como Primeiro-Ministro, ele planifica e autoriza a Operação Yonathan, operação de resgate dos passageiros israelenses seqüestrados por terroristas e levados para Uganda. O tzahal teve pouco tempo para realizar um ensaio e partiu para Uganda, aterrissou na pista durante a noite, eliminou os terroristas e trouxe de volta os reféns, numa ação que impressionou o mundo. Entre os militares estava Yonathan Netanyahu (irmão do ex-Primeiro-Ministro de Israel Binyamin Netanyahu) que morreu na operação. Posteriormente, em sua homenagem, esta operação passou a chamar-se Operação Yonathan

 

            No ano seguinte, descobriu-se que sua esposa, Léa Rabin, possuía contas no exterior, o que era proibido em Israel. Isso gerou uma grande crise, na qual se questionou a honestidade de Rabin, levando-o a renunciar ao cargo de Primeiro-Ministro.

 

 

MINISTRO DA DEFESA

 

            Dez anos depois, iniciava-se a primeira Intifada (rebelião dos palestinos contra os militares israelenses nos territórios ocupados em 1967). Rabin, como Ministro de Defesa, (na foto ao lado) não tomou o devido conhecimento dos acontecimentos, o que impediu que agisse de forma correta, ou seja, que resolvesse a situação rapidamente.

 

 

 

PRIMEIRO MINISTRO – 1992 à 1995

 

            Em 1992, Rabin foi eleito representante de seu partido, o Partido Trabalhista, para as eleições para a Knesset (Parlamento). Seu partido conseguiu a maioria dos votos, e, assim, Rabin pôde formar seu governo e se tornar Primeiro-Ministro novamente.

             

ACORDOS DE PAZ

 

 Na foto, Rabin aperta a mão de Yasser Arafat 

            No ano seguinte a sua eleição, assinou com o líder da OLP (atual Autoridade Nacional Palestina), Yasser Arafat, um acordo de paz. No acordo, Israel reconhecia a necessidade de um Estado palestino e assegurava a retirada gradual da faixa de Gaza e da Cisjordânia. A OLP renunciava ao uso do terrorismo, comprometia-se a invalidar os artigos de sua Carta que negam o direito de Israel à existência e se comprometia a solucionar de forma pacífica o conflito territorial de tantas décadas entre palestinos e judeus. Rabin foi apoiado por parte da população e chamado de traidor por outra parte desta.

 

Rabin havia tomado conhecimento das negociações quando elas já estavam numa fase adiantada. Por isso, reconheceu: "Esta assinatura não é fácil para mim. Nem para mim mesmo, como soldado de Israel, nem para o povo israelense ou o povo judeu na Diáspora, que agora nos observam num misto de esperança e descrença."

           

            Rabin assinou, em 1994, um acordo de paz com a Jordânia do Rei Hussein, marcando o fim de anos de hostilidades entre os dois países. Neste mesmo ano, juntamente com Shimon Peres e Yasser Arafat, recebe o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços em busca da paz no Oriente Médio.

 

 

Na foto à esquerda, o Rei Hussein da Jordânia com Rabin. Na foto acima, Arafat, Peres e Rabin ganhando o Prêmio Nobel da Paz em 1994.

    

 

ASSASSINATO

 

            Os acordos de paz assinados por Rabin fizeram com que Israel passasse a ser vista com bons olhos pelo mundo todo, mas gerou grandes conflitos e oposição dentro do país. O país estava em crise, então, decidiu-se fazer uma manifestação que atraísse multidões para tentar acalmar e unir o povo.

 

Em 4 de Novembro de 1995, nesse ato feito em nome da paz, em Tel Aviv, cujo lema era “Sim à paz, não à violência”, Rabin foi assassinado por um extremista judeu chamado Ygal Amir. Amir não concordava com os termos assinados por Rabin nos acordos de paz. Rabin morreu aos 73 anos, manchando de sangue a letra da música que acabara de cantar ao se despedir da população no fim do ato: Shir La Shalom (Canção da Paz).

Na primeira foto, o túmulo de Rabin, onde ele está enterrado com Léa, em Jerusalém, e, na segunda, escultura em sua homenagem, no local em que foi morto, em Tel Aviv.

O ÚLTIMO DISCURSO DE RABIN

 


"Permitam-me dizer que estou profundamente emocionado.

"Eu quero agradecer a cada um e a todos vocês, que vieram aqui hoje manifestar-se contra a violência e a favor da paz. Este governo, que eu tenho a honra de dirigir ao lado de meu amigo Shimon Peres, decidiu dar uma chance à paz - uma paz que resolverá a maioria dos problemas de Israel.

"Eu fui um militar durante 27 anos. Lutei enquanto não havia chances para a paz. Eu acredito que agora existe uma chance para a paz, uma grande chance. Nós precisamos aproveitá-la pelo bem daqueles que aqui estão, e também pelo bem daqueles que não estão aqui - e existem muitos deles.

"Eu sempre acreditei que a maioria das pessoas quer a paz e está pronta para assumir riscos para a paz. Ao virem aqui hoje, vocês demonstram que, junto àqueles muitos outros que não vieram, as pessoas realmente desejam a paz e se opõem à violência. A violência destrói a base da democracia israelense. A violência deve ser condenada e isolada.

"Este não é o modo do Estado de Israel. Numa democracia pode haver diferenças, mas a decisão final será tomada em eleições democráticas, como as eleições de 1992 que nos deram o mandato para fazermos o que estamos fazendo e para continuarmos este curso.

"Eu quero dizer que estou orgulhoso do fato de representantes de países com quem estamos vivendo em paz estão presentes conosco aqui, e continuarão a estar aqui: Egito, Jordânia e Marrocos, que abriram a estrada da paz para nós. Eu quero agradecer ao Presidente do Egito, ao Rei da Jordânia e ao Rei do Marrocos, representados hoje aqui, pela sua parceria conosco em nossa marcha a caminho da paz.

"E, mais do que qualquer outra coisa, nos mais de três anos de existência deste governo, o povo de Israel provou que é possível fazer a paz, que a paz abre portas para uma melhor economia e sociedade; que a paz não é somente uma bênção.

"A paz é a primeira de todas em nossas rezas, mas também é a aspiração do povo judeu, uma aspiração genuína pela paz.

"Há inimigos para a paz que estão tentando nos ferir, para bombardear o processo de paz. Eu quero dizer, diretamente, que nós encontramos um parceiro para a paz entre os palestinos também: a OLP, que era um inimigo, e que deixou de se engajar no terrorismo. Sem parceiros para a paz, não pode haver paz.

"Nós demandaremos que eles façam a sua parte para a paz, assim como nós faremos a nossa parte para a paz, com o intuito de resolver o aspecto mais complicado, prolongado e carregado emocionalmente do conflito árabe-israelense: o conflito palestino-israelense. Este é um caminho carregado de dificuldades e dor.

"Para Israel, não há caminho sem dor. Mas o caminho da paz é preferível ao caminho da guerra.

"Eu digo isto a vocês como um militar, alguém que é hoje o Ministro da Defesa e vê a dor da família dos soldados do Tzahal. Por eles, por nossos filhos, no meu caso, por nossos netos, eu quero que este governo exauste todas as aberturas, todas as possibilidades, para promover e atingir uma paz completa. Até mesmo com a Síria será possível fazermos a paz.

"Este esforço deve mandar uma mensagem ao povo de Israel, ao povo judeu ao redor do mundo, às muitas pessoas no mundo árabe e, de fato, ao mundo inteiro, de que o povo de Israel quer a paz, apóia a paz.

"Por isso, obrigado."

 

DISCURSO DA NETA DE RABIN NO SEU ENTERRO

“Desculpe-me por não querer falar sobre a paz. Eu quero falar sobre meu avô.

”Nós acordamos sempre acima de pesadelos, mas desde ontem eu acordo somente acima de um pesadelo: o pesadelo da vida sem você - e isto é incompreensivel.

”A televisão não pára de transmitir seus retratos, e você olha assim muito vivo e alcançavel que eu posso quase tocar em você. Mas somente quase, porque eu não posso mais.

”Você era a coluna do fogo que foi antes do acampamento, e nós somos deixados agora somente com o acampamento, sozinho, e nós somos assim frios e tristes. Eu sei que os povos falam nos termos de uma catastrofe nacional, mas como você pode tentar consolar uma pessoa ou fazer parte de sua dor pessoal enquanto a avó não parar de gritar e nós formos mudos, sentindo somente a esquerda vaga enorme por sua ausência.

”Muito poucos conheceram-no verdadeiramente. Podem falar muito sobre você agora, mas eu sinto que não sabem tudo, é enorme a dor, na catastrofe, e, sim, ela é um holocausto, para nós ao menos, a família e os amigos que remanescem, no acampamento somente seu, agora sem nossa coluna do fogo.

”Avô, você era e é ainda nosso herói.

”Eu quero que saiba que em tudo que eu fiz sempre, eu vi-o sempre antes de meus olhos. Seu amor acompanha-nos em cada etapa e em cada trajeto, e nós vivemos na luz de seus valores, sempre. Você jamais abandonara qualquer um, e agora abandonou. E aqui você está, meu herói eterno, frio e só, e não há nada que eu posso fazer para o conservar. Você que é assim maravilhoso.

”Outros, maiores que eu, têm elogiado-o. Mas nenhuns deles tiveram minha sorte para sentir a atenção de suas mãos mornas, macias, e o morno embrace que foram reservadas somente para nós. Eu não tenho nenhum sentimento da vingança, porque minha dor e minha perda são assim grandes, demasiadamente grandes. A terra deslizou afastando nossos pés, e nós estamos tentando de algum modo sentar distante deste espaço vazio que foi deixado atrás sem muito sucesso.

”Eu não posso trazer até o final, mas parece que a mão de um desconhecido, uma mão infeliz, terminou-o já para mim. Não tendo nenhuma escolha, peço que você, herói, vá descansar na paz  para pensar em nós e para faltar-nos, porque nós, aqui, amamos-te muito. E do comboio de anjos divinos que o acompanham agora, eu peço que preste atenção em você, que preste bastante atenção em você, porque você merece tal proteção.

”Nós amamos-te, avô. Sempre.”

 

SHIR LASHALOM

 

Tnu lashemesh la'alot
aboker leha'ir
Hazaka shebatfilot
Otanu lo takhzir.

Mi asher kava nero
Uve'afar nitman
Bekhi mar lo ya'iro
Lo yakhziro lekan.

Ish otanu lo takhzir
Mibor takhtit afel
Kan lo yo'ilu
Lo simkhat hanitzakhon
Velo shirei halel
Lakhen rak shiru,
shir lashalom,
Al tilkhashu t'fila
Mutav tashiru,
shir lashalom
Bitze'aka gdola.

Tnu lashemesh lakhador
Miba'ad laprakhim.

Al tabitu le'akhor
Hanikhu laholkhim
Se'u eynayim betikva
Lo derekh kavanot
Shiru shir la'ahava
Velo lamilkhamot
Al tagidu yom yavo
Haviu et hayom
Ki lo khalom hu
Ubekol hakikarot
Hari'u lashalom

Deixe o Sol subir
Dar luz à manhã
A mais pura benção
Não nos trará de volta


Aquele cuja vela se apagou
E no pó foi enterrada
O choro amargo não acordará
E não o trará para cá


Ninguém nos trará
De um canto morto e escuro
Aqui, nem a alegria da vitória
Nem canções enaltecedoras ajudarão

Então Apenas cante uma canção pela paz
Não sussurre uma prece
Apenas cante uma canção pela paz
Em um grito alto

Deixe o sol penetrar

por entre as flores

Não olhe para trás
Deixe irem os que partiram
Levante seus olhos com esperança
Não através da mira de um rifle
Cante uma canção para o amor
E não para as guerras
Não diga que o dia virá
Traga o dia
Porque não é um sonho
E em todas as praças
Torçam pela paz.

 

 

 

Letra de Shir La Shalom manchada de sangue, que estava no bolso de Rabin quando foi morto

 

 

 


Copyright © 2003-2005 Chazit Hanoar Hadrom Americait. All rights reserved.

 

 

CHAZIT HANOAR

Chazit Hanoar

Porto Alegre

 PORTO ALEGRE